Assine nosso boletim de postagens

quarta-feira, maio 27, 2009

CANTORES - JUSTIÇA SEJA FEITA...

'
Voltar ao Índice
'

Wilson Simonal
merece mais que a redenção
'
Seg, 25 Mai, 02h37
Por Regis Tadeu, colunista do Yahoo! Brasil

'
PUBLICIDADE
'
Negro, carismático, bon vivant, talentoso, provocante, mulherengo, cheio da grana, folgado, dono de um suingue contagiante e voz afinadíssima, inteligente. Na segunda metade dos anos 60, a reunião de tais características em uma única pessoa era um paiol de pólvora prestes a explodir, principalmente para a sociedade brasileira da época, que ensaiava os primeiros passos rumo à modernização em termos de moral e costumes.
'
· Leia os outros colunistas
'
Mas a figura de Wilson Simonal despertava sensações ambíguas na maioria dos brasileiros. Que ele era genial como artista, isso ninguém duvidava, mas Simonal representava também a imposição de um padrão de comportamento descompromissado com a dura realidade nacional, ainda mais vindo de um cara que, consciente ou inconscientemente, renegava a sua condição de "preto comportado", submisso e humilde, fazendo emergir das entranhas de muita gente aquela ponta daquele racismo que todo mundo escondia nos mais escuros recantos da alma.
Em 1971, no auge do sucesso - ele era o único que rivalizava com Roberto Carlos em termos de popularidade na música -, Simonal cometeu o erro que lhe custou a carreira e, por que não dizer, a vida muitos anos depois: "enganado" com seu contador, desconfiado de que ele o estava roubando, o cantor mandou dois amigos darem uma surra no cara.
'
O problema é que os brutamontes eram agentes do temido DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), um serviço público cuja principal atividade era torturar adversários (verdadeiros ou não, tanto fazia) da ditadura militar. Para piorar ainda mais, um deles revelou a jornalistas que Simonal era informante do DOPS. Confrontado, o cantor acabou jogando uma pá de cal em si próprio ao dizer que vinha recebendo ameaças terroristas e que recorreu ao DOPS porque tinha conhecidos na polícia política, em uma tentativa de se mostrar "fodão", sem medir as consequências de tal declaração no momento político pelo qual o Brasil passava na época. Pronto: estava formada a gosma que grudou na pele de Simonal como o alien do filme da Sigourney Weaver e nunca mais saiu, condenando-o até o final de sua existência.
'
De nada adiantou Simonal, amargurado, enraivecido e já afundado no alcoolismo, clamar sua inocência nas raras ocasiões em que era convidado a participar de programas de TV, dizendo que não havia dedurado ninguém - afinal, por que ele faria isso se havia todo um departamento especializado para investigar a classe artística? Ao contrário do que aconteceu com outros supostos subversivos, para Simonal não houve anistia. Por muitos anos, ele foi um borrão, tratado como se fosse um leproso pela sociedade artística brasileira.
'
Evidentemente, não vou contar aqui os detalhes da ascensão e queda de Simonal. É obrigatório que você assista ao esplendoroso documentário "Ninguém Sabe o Duro que Dei", dirigido pelo "casseta" Cláudio Manoel, ao lado de Calvito Leal e Micael Langer, para ter um painel completo disso.
'
Veja o trailer abaixo:
'
Também é preciso ter em mente que Simonal não foi o único artista talentoso a cair no esquecimento. Os leitores mais "das antigas" certamente lembram de caras como Ronnie Von, Silvio Brito, Marcos Valle, Taiguara e Antonio Marcos, que fizeram um sucesso estrondoso e desapareceram envoltos nas névoas do ostracismo. Mas é fundamental que muita gente pare de julgar a relevância de um artista por causa de seu caráter, como acontece com o Oasis, para usar um exemplo mais recente, cujos detratores prestam mais atenção à pretensa arrogância dos irmãos Gallagher do que aos ótimos discos que a banda sempre lança.
'
As pessoas parecem não entender que é possível ser simpático e medíocre, da mesma forma que mau-caráter e talentoso. Se Simonal era um cara "de direita", um crioulo deslumbrado com as maravilhas e delícias da vida de playboy ou obcecado pela fama, isso fica em um patamar muito abaixo de sua riqueza musical. O que vale é que o cara foi um gênio da música brasileira, que conseguiu a proeza de fazer inúmeras canções que eram comerciais e maravilhosas ao mesmo tempo - algo raro até mesmo nos dias de hoje -, e que se transformou em um dos maiores intérpretes da história da música nacional. Veja abaixo Simonal cantando "Tributo a Martin Luther King" em 1967 na TV Record:
'
Não tem como não se emocionar vendo Simonal dar um baile em Sarah Vaughan quando cantaram juntos "The Shadow of Your Smile"...
'
...ou regendo um ginásio do Maracanãzinho abarrotado de gente, fazendo todo mundo cantar "Meu Limão, Meu Limoeiro" por inacreditáveis trinta minutos. Veja abaixo o que o cara costumava fazer nos shows:
'
Em um país que adora perdoar, mesmo gente que não mereça tal atitude - vide a quantidade de políticos que caem em desgraça e dão a volta por cima em eleições posteriores, como Fernando Collor, Jânio Quadros e Paulo Maluf -, a redenção de Simonal pode ter sido tardia, mas jamais injusta.
'
Discos essenciais de Wilson Simonal:
'
A Nova Dimensão do Samba (1964)
Alegria, Alegria !!! (1967)
Alegria, Alegria - Volume 2 ou Quem Não Tem Swing Morre com a Boca Cheia de Formiga (1968)
Alegria, alegria - volume 3 ou Cada um Tem o Disco que Merece (1969)
Homenagem à Graça, à Beleza, ao Charme e ao Veneno da Mulher Brasileira (1969)
Jóia (1970)
Yahoo! Respostas:
'
Que outro artista você considera que seja um injustiçado na história da música brasileira?
'
Regis Tadeu é editor das revistas Cover Guitarra, Cover Baixo, Batera, Teclado & Piano e Studio. Diretor de redação da Editora HMP, crítico musical do Programa Raul Gil e apresenta/produz na Rádio USP (93,7) o programa Rock Brazuca.
'
Gostou da coluna? Envie um e-mail para y_musica@ymail.com e opine!
'1
Voltar ao Índice

  ©Servos de Maria - Associação Católica Servos de Maria - Todos os direitos reservados.

Template by Dicas Blogger | Topo