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domingo, dezembro 13, 2009

A QUESTÃO DO CÂNON É MESMO O CALO DA SOLASCRIPTURA



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Foi através da Tradição que a Igreja nos legou os 27 livros do NT e os 46 do antigo. A Escritura mesma, sobre o número de seus livros, nada diz. Quem discorda da Tradição e do Magistério da Igreja está impossibilitado de conhecer definitivamente a quantidade de livros que compõem a Bíblia. Teríamos que rejeitar, ainda, a própria palavra Bíblia, cujo nome não está na Escritura, mas apenas na Tradição.
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Sabemos que a Bíblia não caiu prontinha do céu. Quem definiu a canonicidade dos livros que a compõem e que o AT e o NT fosse posto num único volume foi o Espírito Santo através da Tradição e do Magistério da Igreja. Isso é historicamente comprovado. A Igreja cristã primitiva, durante os primeiros anos de pregação, quando o NT ainda não fora escrito, viveu exatamente dessa Tradição e desse Magistério dos quais estamos falando. Pôde a Igreja primitiva evangelizar durante os primeiros 350 anos, sem inclusive saber ao certo quais livros pertenciam ao cânon da Escritura, justamente por essa mesma Tradição e por esse mesmo Magistério.
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O Cânon biblíco é indiscutivelmente, um ponto de fé essencial para os evangélicos. E é inclusive desse ponto que depende a Sola Scriptura. E, todavia, não há nenhuma base bíblica para nenhum cânon seja ele católico ou protestante. Não há sequer um versículo bíblico que, explícita ou implicitamente, afirme que os livros das nossas Bíblias sejam inspirados.
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Nada, rigorosamente nada que fundamente tal afirmação.
A definição dos livros bíblicos baseia-se única e exclusivamente numa autoridade extrabíblica, a Tradição. E isso é o suficiente para demonstrar o equívoco da Sola Scriptura. Afinal, por que razão seria a Tradição fiel apenas para a definição do ponto de fé essencial dos solascripturistas, que é seu cânon bíblico, mas não o é para definir qualquer outro menos importante? Por qual motivo a Tradição se corrompeu com relação a tudo, exceto quanto ao cânon? Por que, por exemplo, essa Tradição não é confiável quando afirma (baseando-se, implicitamente, em alguns trechos bíblicos) a existência do purgatório, mas é confiável quando afirma que os Atos dos Apóstolos, por exemplo, são inspirados (e sem nenhum apoio nem mesmo implícito na Bíblia)? .
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Aliás, onde está na Bíblia que a Tradição só se manteve fiel ao definir o cânon bíblico?
Quando dizemos isso, os solascripturistas discordam e dizem que o Senhor revelou o cânon pelo Espírito Santo. Mas é onde perguntamos: se o Espírito Santo revelou algo tão fundamental fora da Bíblia, não é isso uma prova de que existe uma autoridade extrabíblica confiável? Do contrário, como poderemos confiar no catálogo estabelecido? Além disso, segundo o próprio princípio solascripturista o cânon não deveria estar na própria Bíblia?
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Afinal de contas, o que querem demonstrar os solascripturistas com esse argumento? Pretendem supor que o fato de o Espírito Santo conduzir a Igreja a reconhecer o cânon, invalida isso a autoridade da Tradição e do Magistério da Igreja para catalogarem esse cânon? Como? Não está claro no próprio argumento que a ação do Espírito do Senhor ocorreu através da Igreja? Em outras palavras, não fica claro que Deus não soprou diretamente o cânon, mas que fez isso por meio da autoridade eclesiástica? De qualquer forma, não está claro que para acatarmos o cânon somos forçados a acatarmos antes a autoridade da Igreja, pois ela é quem nos fala pelo Espírito Santo? Onde, então, está a lógica desse argumento?
Concordamos perfeitamente que o cânon foi inspirado à Igreja pelo Espírito do Senhor. E isso a Igreja sempre o ensinou.
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Mas cadê a Sola scriptura aí? O que isso justifica a ausência do cânon na Bíblia, e, portanto, justifica a Solascriptura?
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Além do mais, à qual Igreja foi dado esse cânon? À Igreja protestante ou à Católica? Suponhamos que tenha sido à protestante: mas por que Deus deixou o seu povo enganado pelo cânon católico desde tanto tempo atrás, desde o século IV, na decisão de Cartago e Hipona? Por que somente no século XVI Deus veio fazer seu povo reconhecer o cânon da única regra de fé de todos os cristãos e de todos os 16 séculos anteriores? Deixou o Senhor o seu povo ignorante num ponto tão fundamental durante 1500 anos? Mesmo se fosse o Protestantismo ainda restaria perguntar: qual cânon? O de Lutero, o qual rejeitava a carta de S. Tiago, a de Hebreus, a de Judas e o Apocalipse? O de Calvino, que rechaçava a 2 e a 3 carta de S. João? O de Zuínglio, que implicava com o Apocalipse? O de Svedemburg, que só aceitava os 4 Evangelhos e o Apocalipse ou o dos modernos solascripturistas os quais, apesar da maioria acatar os 27, ainda existem outros que divergem e dão novas listagens? Se optarmos por um desses cânones, teremos que justificar a recusa dos outros. E de preferência pela Bíblia, já que ela, segundo os solascripturistas é a única autoridade.
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Ainda mais: Ao optarmos por um desses cânones, e principalmente por causa da tre-menda controvérsia sobre o assunto, somos forçados a aceitar antes a autoridade que os catalogou. Exemplo: um protestante aceita o cânon de 66 livros porque antes de crer nisso ele crê na autoridade do Protestantismo para reconhecê-lo. Se não é assim, por que, então, creem somente, e tão somente, no cânon apresentado por sua denominação? E por que nós católicos cremos no cânon de 72 (73) livros? Justamente porque cremos na autoridade da Igreja Católica para fixá-lo. De fato, Deus não desceu do céu para explicitamente confirmar qual cânon é o correto.
Se assim fosse, por que os solascripturistas não se entendem sobre o assunto? Essa saída dos solascripturistas parece significar que a Bíblia já caiu prontinha do céu, toda escrita e já catalogada. A Igreja só fez recebê-la. Nada a mais.
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A história da Bíblia e da formação do seu cânon, porém, desmente essa hipótese.
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Na realidade, a história da Bíblia se mistura e se confunde com a história da Igreja. O AT é exatamente o produto da experiência do antigo povo de Deus. O NT é o produto da experiência da Igreja, o novo povo do Senhor. Não dá para separar as duas, e isolar a Bíblia sem reconhecer o seu contexto no qual ela foi escrita e catalogada.
A definição do cânon foi tomada 300 anos após a morte do último apóstolo. Logo, se a Igreja é capaz de chegar a uma decisão infalível 300 anos após a morte do último apóstolo, fica evidente que ela o é para definir qualquer outro ponto.
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Na verdade, não podemos nem sequer começar a usar a Sola Scriptura sem antes reconhecer quais livros compõem as Escrituras. O solascripturista está num beco sem saída. Para usar a Sola Scriptura, precisa identificar quais são essas Escrituras, mas não pode fazê-lo a partir da Sola Scriptura, pois a Escritura não estabelece seu cânon. Terá ele, então, que recorrer a fontes extraescriturais para poder argumentar convincentemente. Só que fazendo isso, acaba desprezando o seu próprio princípio.
Para justificar seu cânon, os solascripturistas apelam para fontes extrabíblicas e, mais, até para fontes apócrifas como o Talmude, por exemplo, mas não citam sequer um versículo da sua única regra de fé e prática. Claro que é porque não existe tal citação. Mas se não existe, somos forçados, então, pelo próprio princípio solascripturista a não crer na Sola Scriptura.
AUTOR:EVALDO

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