Protestantes receberam bem a ascenção de Hitler
É difícil compreender a conduta da maioria dos protestantes nos primeiros anos do nazismo, salvo se estivermos prevenidos de dois fatos: sua história e a influência de Martinho Lutero. O grande fundador do protestantismo não só foi anti-semita apaixonado como feroz defensor da obediência absoluta à autoridade política. Desejava a Alemanha livre dos judeus, os quais, depois de expulsos, deveriam ser despojados de “todo dinheiro e jóias, prata e ouro”; além disso, “que fossem incendiadas suas sinagogas e escolas, suas casas derrubadas e destruídas (...), postos sob um telheiro ou estábulo, como os ciganos (...), na miséria e no cativeiro assim que eles se lamentassem e de nós se queixassem incessantemente a Deus” ¾ conselho que foi literalmente seguido quatro séculos mais tarde por Hitler, Göring e Himmler.
Naquela que talvez tenha sido a única revolução popular na história alemã, a insurreição camponesa de 1525, Lutero aconselhou os príncipes a adotar as medidas mais cruéis contra os “cães danados”, como chamava aos camponeses desesperados e espezinhados. Neste caso, como em suas referências aos judeus, Lutero empregava uma linguagem obscena e brutal, sem paralelo na história alemã até o período do nazismo. A influência de sua poderosa personalidade se estendeu por gerações na Alemanha, sobretudo entre os protestantes. Daí a facilidade com que o protestantismo alemão se transformou em instrumento do absolutismo da realeza e dos príncipes desde o século XVI até que os reis e príncipes foram derrubados, em 1918. Os monarcas hereditários e os governantes secundários se converteram nos bispos supremos da Igreja Protestante em suas terras. Na Prússia, o rei Hohenzollern foi o chefe da Igreja. Em nenhum outro país, salvo a Rússia czarista, o clero, por tradição, tornou-se tão completamente servil ao poder político do Estado. Seus membros, com raras exceções, sustentaram firmemente o rei, os junkers e o exército, e durante o século XIX resistiram aos ascendentes movimentos liberais e democráticos. por ocasião da eleição ao Reichstag não se podia senão observar, sem qualquer ação. Que o clero protestante ¾ Niemöller foi típico ¾ completa e abertamente apoiava os nacionalistas e mesmo os inimigos nazistas da república. Como Niemöller, a maioria dos pastores recebeu muito bem a ascensão de Adolf Hitler à chancelaria, em 1933.
Logo vieram a conhecer a mesma tática de força que levar a Hitler ao poder público. Em julho de 1933, os representantes das igrejas protestantes escreveram uma constituição para uma nova “Igreja do Reich”, que foi formalmente reconhecida pelo Reichstag no dia 14 de julho. Imediatamente surgiu uma luta surda em torno da eleição do bispo do Reich. Hitler insistia em que o mais alto posto devia ser dado a seu amigo, o capelão Muller, a quem nomeara seu conselheiro em assuntos da Igreja Protestante. Os dirigentes da Federação das Igrejas propuseram um sacerdote eminente, o pastor Friedrich von Bodelschwing. Mas, foram ingênuos. O governo nazista interveio, dissolveu uma quantidade de organizações eclesiásticas provinciais, suspendeu das funções diversos importantes dignitários das igrejas protestantes, lançou sobre os sacerdotes recalcitrantes as S.A e a Gestapo ¾ numa palavra, aterrorizou todos os que apoiavam Boldelschwing. Na véspera da eleição dos delegados ao sínodo que escolheria o bispo do Reich, Hitler pessoalmente ocupou o rádio para “exortar” à eleição os “cristãos alemães”, dos quais Muller era candidato. A intimidação obteve grande êxito. Nesse ínterim, Bodelschwingj se vira forçado a retirar a candidatura, e a “eleição” apresentou uma maioria de “cristãos alemães” que em setembro, no sínodo de Wittenberg, onde Lutero pela primeira vez desafiara Roma, elegeu Mülle bispo do Reich.
Shirer, Wlliam L, (William Lawrence), 1904 – 1993
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Ascensão e queda do Terceiro Reich, volume I: triunfo e consolidação (1933-1939) William L. Shirer; [tradução de Pedro Pomar] P. 320 – Rio de Janeiro: Agir, 2008.
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autor:Jefferson Nóbrega
Pax et bonvs!
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Ascensão e queda do Terceiro Reich, volume I: triunfo e consolidação (1933-1939) William L. Shirer; [tradução de Pedro Pomar] P. 320 – Rio de Janeiro: Agir, 2008.
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autor:Jefferson Nóbrega
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