Por que a mãe de Jesus nunca pecou?
A pergunta feita no título deste capítulo é
respondida nele mesmo. De fato, justamente por ser mãe do Senhor Jesus é
que Maria foi por Deus preservada de todo o pecado. Aliás, ela foi a
primeira criatura salva pelo sangue de Cristo. Segundo ensina a santa fé
Católica, todo o gênero humano foi salvo pela morte de Jesus Cristo na
cruz do calvário. A única diferença, porém, é que todos nós fomos salvos
após pecar; Nossa Senhora, ao contrário, foi salva antes de pecar, ou
seja, em previ-são dos méritos infinitos da morte de Jesus ela foi
liberta do pecado. Isso se justifica apenas e tão somente pelo fato de
ela ter sido escolhida para tornar-se a mãe do Filho único do Deus vivo.
É inconcebível. Não consigo imaginar que o Verbo de Deus se tornara carne num ventre pecador. Não posso crer que o Deus Todo-Poderoso se misturara com o pecado. Jesus é o puro, o imaculado. Ele não poderia ser o puro se tivesse vindo de um ventre impuro. Quem diz isso é Jó 14,4: ” Quem do imundo tirará o puro? Ninguém.” O próprio Jesus disse que uma árvore má não pode dar bons frutos (Mt 7,18). É evidente, portanto, que sendo Jesus o puro, sua mãe só poderia, por causa dEle, ser também imaculada. Quando dizemos isso, alguns ingenuamente alegam que se para ser mãe de Cristo Maria tinha que ser imaculada, então, a mãe dela também teria de ser, a avó também e assim sucessiva-mente. Alegam ainda que Maria por ter sido gerada da relação sexual entre seus pais, deveria ter herdado o pecado. O caso de Jesus é diferente: Ele foi o único gerado sem a relação sexual. Concluem daí, então, que Nosso Único Salvador seria também o único a não ter pecado.
É inconcebível. Não consigo imaginar que o Verbo de Deus se tornara carne num ventre pecador. Não posso crer que o Deus Todo-Poderoso se misturara com o pecado. Jesus é o puro, o imaculado. Ele não poderia ser o puro se tivesse vindo de um ventre impuro. Quem diz isso é Jó 14,4: ” Quem do imundo tirará o puro? Ninguém.” O próprio Jesus disse que uma árvore má não pode dar bons frutos (Mt 7,18). É evidente, portanto, que sendo Jesus o puro, sua mãe só poderia, por causa dEle, ser também imaculada. Quando dizemos isso, alguns ingenuamente alegam que se para ser mãe de Cristo Maria tinha que ser imaculada, então, a mãe dela também teria de ser, a avó também e assim sucessiva-mente. Alegam ainda que Maria por ter sido gerada da relação sexual entre seus pais, deveria ter herdado o pecado. O caso de Jesus é diferente: Ele foi o único gerado sem a relação sexual. Concluem daí, então, que Nosso Único Salvador seria também o único a não ter pecado.
Antes, porém de responder a essas dúvidas, fazemos duas perguntas:
1) Se Deus quisesse, Ele teria o poder para
salvar Maria pelos méritos de Cristo na cruz?
2) Se Jesus é Deus, é o puro, o imaculado,
não é lógico que Ele preservasse do pecado a mulher da qual receberia a
carne e o sangue humanos?
O mal das pessoas que levantam esses
questionamentos é pensarem que defendemos a imaculada conceição de Maria
por ser ela a excelente por natureza, pura por natureza. Não. Isso não é
verdade. O especial, o magnífico, o excelente, o puro por natureza só o
é o Senhor Jesus, não
Maria nem ninguém. Maria tornou-se pura
porque foi reservada para se tornar o templo vivo no qual habitaria o
próprio Deus; só por isso. Se ela não tivesse sido escolhida para ser a
mãe de Jesus, claro que ela teria pecado. Assim, portanto, resolvemos e
respondemos as dúvidas mencionadas antes. Ora, sendo Maria imaculada não
é obrigatório que sua mãe e sua vó, por exemplo, o sejam, pois ela,
Maria, não é a especial no caso. Ela não precisava de uma mãe imaculada.
Jesus, sim, por ser o especial, o Deus Todo-Poderoso, necessitava de um
templo humano puro, reservado só para Ele. Maria nasceu através de
relação conjugal de seus pais, mas não é isso que nega a sua imaculada
conceição, pois Deus, o criador de tudo, poderia, com sua misericórdia,
libertá-la do pecado mesmo antes de ela nascer, como o fez. Maria
tornou-se especial porque seu filho é o especial. Note bem, Jesus é o
especial, Maria tornou-se especial para ser seu templo.
Há inúmeras passagens bíblicas que nos vem
confirmar essa verdade. Conforme as Santas Escrituras, tudo o que é
oferecido para Deus é em especial a Ele reservado. Deus é o Senhor de
tudo, o único, o Soberano, o Excelente. Tudo dEle é especial, é santo, é
sagrado.
De acordo com Gn 4,3-7, Deus se agradou da oferta de Abel por ele ofertar o especial para o Senhor; por outro lado, Caim não o agradou por deixar de ofertar o melhor. É lógico, portanto, que tudo de Deus e para Ele deve ser especial.
De acordo com Gn 4,3-7, Deus se agradou da oferta de Abel por ele ofertar o especial para o Senhor; por outro lado, Caim não o agradou por deixar de ofertar o melhor. É lógico, portanto, que tudo de Deus e para Ele deve ser especial.
Se você, caro leitor, quiser notar que a
especialidade de Deus exige que seus pertences sejam puros, sagrados,
leia atentamente dos capítulos 25 a 35 do livro de Êxodo. Para tanto,
vamos destacar aqui alguns pontos importantes desses capítulos. Ali,
Deus ordena a Moisés para fazer um tabernáculo para si. Mas para a
confecção daquele lugar, Ele mesmo dá as regras. Tudo deve ser
especialmente reservado. Tudo deve ser produzido de ouro. Como o ouro é a
coisa mais valiosa que temos, a Deus ele deve ser oferecido. Além dos
querubins, os pratos, as colheres, as coberturas e as tigelas seriam
feitas de ouro. Veja Ex 25,18.29. Conforme Ex 25,31 até os castiçais
seriam de ouro. Em Ex 25,23.24 diz que a madeira da mesa seria de cetim e
coberta de ouro. Até as cortinas foram delicadamente trabalhadas. (Veja
Ex 26).
O altar também foi feito de madeira de cetim (Ex 27). O azeite para acender as iluminarias era de azeite puro (Ex 27,20). As vestes sacerdotais eram santas (Ex 28,2.3).Para oferecer sacrifício ao Senhor, o sacerdote Aarão e seus filhos deviam ser ungidos e santificados (Ex 28,41.43; 29,1). O cheiro da oferta deveria ser suave, pois é reservada a Deus (Ex 29,18). Tudo que pertencia ao sacerdote teria de ser santificado (Ex 29,21.27.29.35-37.42-46).
O altar também foi feito de madeira de cetim (Ex 27). O azeite para acender as iluminarias era de azeite puro (Ex 27,20). As vestes sacerdotais eram santas (Ex 28,2.3).Para oferecer sacrifício ao Senhor, o sacerdote Aarão e seus filhos deviam ser ungidos e santificados (Ex 28,41.43; 29,1). O cheiro da oferta deveria ser suave, pois é reservada a Deus (Ex 29,18). Tudo que pertencia ao sacerdote teria de ser santificado (Ex 29,21.27.29.35-37.42-46).
Por Ex 29,46 sabemos que tudo devia ser santificado para que Deus habitasse “no meio deles”.
O altar do incenso era de cetim e coberto de ouro (Ex 30, 1.3). A pia era de cobre (Ex 30, 17-21). O azeite da unção era santo (Ex 30, 22-38). O incenso também (Ex 30, 35-38). O propiciatório era de ouro (Ex 37,6). E a Arca era especialíssima (Ex 37,1-5). Sobre a Arca estudaremos à frente.
Êxodo 30,29 ainda é mais forte. Na Bíblia evangélica (a de João Ferreira de Almeida, edição revista e corrigida) diz assim: “Assim santificarás estas cousas, para que sejam santíssimas: tudo o que tocar nelas será santo.” Observe que tudo que era daquele tabernáculo deveria ser santificado, e tudo que tocasse naquelas coisas santas também era santificado. Ali-ás, tudo deveria ser mais do que santo, deveria ser santíssimo. Leia Ex 40, 10.11.13.15.
Conforme Ex 3,5 o lugar onde Deus aparecia a Moisés era santo e para nele pisar Moisés deveria tirar as sandálias. O rosto de Moisés resplandecia só porque ele falara com o Senhor (Ex 34,29-35).
Ora, se tudo que era reservado para Deus devia ser santificado, devia ser especial, devia ser puro; se até a monte era santo só porque o Senhor ali falava com Moisés; se as vestes sacerdotais também deviam ser santificadas; se os sacerdotes deviam se santificar para oferecer sacrifício a Deus; se o altar e tudo o que fosse do tabernáculo devia ser santificado, e sabemos que tudo no AT prefigura o Novo, é lógico, então, para ser a mãe de Deus, para gerá-lo em seu ventre Maria devia também ser santificada, devia ser preservada do pecado. Se o rosto de Moisés resplandecia só porque ele vira o Senhor, é evidente, portanto, que para o Verbo se tornar carne em Maria, ela devia ser imaculada. Se para Deus habitar no meio do seu povo tudo devia ser santificado, é lógico que para Deus habitar em Maria ela não podia ter pecado.
O templo que Salomão construiu para ser morada de Deus também teve de ser perfeitamente trabalhado. Era tudo coberto de ouro e assim como o tabernáculo de Moisés, foi feito o melhor porque a morada do senhor deveria ser perfeita. “E mandou o rei que trouxessem pedras grandes e pedras preciosas, pedras lavradas, para fundarem a casa.” (1Rs 5,17). “Assim edificou Salomão aquela casa, e a aperfeiçoou.” (1Rs 6,14). Perceba a preocupação com a perfeição dos objetos e da casa do Senhor. Para maior detalhes leia os capítulos 6,7,8 e 9 inteiros do livro citado e leia ainda o 2º livro das Crônicas, capítulos 3,4,5 e 6.
Ezequiel também teve uma visão de um templo novamente bem trabalhado, novamente perfeito (Leia Ezequiel do capítulo 40 ao 48). Tudo visto ali era o mais perfeito possível, já que a perfeição do senhor exige evidentemente que seus pertences sejam também perfeitos.
Belém, cidade humilde, seria altamente engrandecida porque o Senhor nela nasceria. Leia Miquéias 5,1.2 e Mateus 2,6. Nota-se, assim, que a especialidade do Senhor exige a exaltação, a santificação, a pureza de seus pertences.
Em 1 Cor 3,16 claramente S. Paulo nos diz que o nosso corpo é santo, por ser templo de Deus. Novamente, a conclusão que daí tiramos é que o templo de Deus tem que ser santo. Veja que nosso corpo é santo por ser morada espiritual do Senhor. Imagine, então, para ser morada dupla dEle; para ser morada espiritual pela fé (Lc 1,42) e morada humana, dando-lhe a carne e o sangue.
Por que, conforme Apoc 21,27 nada de impuro entra na Jerusalém celeste? Justamente porque o Senhor quer uma morada pura. É lógico, portanto, que para Deus poder morar 9 meses no ventre de Maria ela tinha que ser purificada antes de nascer.
Há um detalhe na visão do templo tida por Ezequiel muito interessante. No capítulo 44,2 ele nos fala de uma porta que será “fechada, e não se abrirá; ninguém por ela passará, porque o senhor Deus de Israel entrou por ela.” É interessantíssimo esse trecho. Até a porta por onde Ele entra mais ninguém entrará. Ela será exclusividade dEle, ser-lhe-á reservada. Aqui mais uma vez comprova-se o dogma da imaculada conceição da mãe. Maria devia ser reservada para o Senhor, tinha de ser purificada, senão seria incapaz de conter o Senhor. Aqui também se justifica o dogma da sua virgindade perpétua. Maria foi a porta pela qual o Verbo de Deus chegou até nós; ela, portanto, era exclusividade dele. Ao passar por Maria, mais ninguém poderia dela nascer. A especialidade do Senhor é tão grande que até o jumentinho da entrada em Jerusalém e o túmulo em que o sepultaram eram-lhes reservados (Mt 27,60; Mc 11,2; Lc 19,30; 23,53; Jo 19,41).
A situação mais clara fica quando sabemos que Maria já estava na mente de Deus desde séculos atrás. Desde que Eva levou Adão a pecar, ali mesmo Deus prometera uma mulher, Maria, a qual seria a porta por onde o Salvador viria. O senhor já tinha reservado Maria. Evidentemente também Ele já tinha planejado aperfeiçoá-la para que ela pudesse se tornar o templo único do Deus feito homem. (Gn 3,15; Is 7,14).
A maioria dos cristãos cremos que Maria engravidou de Jesus sem relação sexual. Por que defendemos essa santa doutrina? Justamente porque cremos na especialidade do Cristo. Ora, sendo Jesus especial era necessário que seu nascimento fosse especial. Não entendo, porém, porque alguns cristãos têm dificuldade em entender a pureza de Maria. Ora, sendo Jesus especial, fazia-se necessário que sua mãe também o fosse. Não é por méritos dela, mas por causa da especialidade e bondade de Jesus.
O próprio fato de Jesus ter nascido numa manjedoura é prova inconteste de sua especialidade. De fato, a especialidade, a bondade e a humildade de Jesus exigiam que seu nascimento fosse num lugar simples, humilde, longe dos erros dos poderosos.
Até hoje os próprio inimigos da imaculada conceição chamam terra santa o lugar onde Cristo nasceu. Sendo santa a terra onde o Senhor pisou, é logicamente santíssimo o ventre onde Ele fora gerado. É santo o ventre que lhe deu a carne e o sangue humanos.
Outro objeto santo que embora fabricado no tabernáculo de Moisés deixamos para falar dele isoladamente é a Arca da Aliança. Deixamos para falar em separado porque ela tem toda uma particularidade que nos remete obviamente a Maria.
Vejamos:
A Arca era um objeto de madeira de cetim, coberta de ouro puro, com o propiciatório em cima em cima dela e com duas imagens de querubins por cima do propiciatório. O propiciatório também era feito de ouro puro e do meio das duas imagens de querubins Deus falava com Moisés. Observe como era especial o lugar onde Javé falava com Moisés seu servo. Leia Ex 25,10-22.
Esse objeto era tão sagrado que não podia ficar em qualquer lugar no tabernáculo de Moisés ou no templo de Salomão. Era reservado um lugar especial chamado de “Santo dos Santos” ou “Lugar santíssimo”: Ex 26,33.34; 1Rs 6,16.19; 8,6,; 2 Cron 5,7. Nem Aarão, o sacerdote, podia entrar freqüentemente no lugar onde ficava a Arca (Lv 16,2). Eleazar teve que ser consagrado para que guardasse a Arca em sua casa (1Sm 7,1). Os sacerdotes e levitas são os únicos que podiam carregar a Arca em procissão (Dt 10,8; 31,9; 1Cron 15,2). Para carregá-la eles tinham que se santificarem (1Cron 15,14). Ninguém podia olhar para dentro do lugar onde estava a Arca (Nm 4,5.15.20). Oza morreu por tocar a Arca (2Sm 6,6.7; 1Cron 13,9.10). Uns homens foram feridos por ousarem olhar para dentro da Arca (1Sm 6,19). A Arca é roubada e sair a Arca de um lugar significava sair a glória de Deus (1Sm 4,21.22). Na terra dos filisteus, para onde levaram a Arca, os homens foram afligidos de hemorróidas (1Sm 5,1-12).
A Arca é levantada ao som de alegria (1Sm 4,5.6; 2Sm 6,15; 1Cron 15,28). Levantar-se Deus e sua Arca, é o que chamava o povo do Senhor Deus (Nm 10,35; 1Cron 28,2; 2Cron 6,41.42; Sl 132, 8). A Arca vai indicar lugar de descanso e levantá-la é levantar-se o Senhor (Nm 10,33-36). Através dela, Deus livra do mal (1Sm 4,3-8). A casa de Obede-Edom é abençoada por receber esse objeto santo (2Sm 6,11.12; 1Cron 13,14). Deus, o próprio Deus, ordenou a Josué que fizesse procissão com a Arca durante seis dias para que Jericó fosse restaurada (Josué 6 inteiro). Por causa da Arca, Israel passa a pé enxuto pelo rio Jordão (Josué 3 inteiro e 4,7.18). Josué e todos os anciãos de Isarel se prostraram diante da Arca do Senhor (Jos 7,6).
O caro leitor percebeu tanta especialidade desse objeto? Notou que apesar de tanto respeito pela Arca, Deus não se revoltou, mas até incentivou em vários momentos o respeito por ela? Percebeu que aí não houve idolatria? Percebeu que há diferença entre idolatria e respeito pelas coisas sagradas? Outra coisa: sabe por que aquele objeto era tão sagrado assim? Porque ele guardava a palavra de Deus, o testemunho, ou seja, as tábuas da lei (Ex 25,16; 31,18; 32,15; Dt 10,2.5; 1Rs 8,9; 2Cron 5,9.10, 6,11; Hb 9,4). A Arca era, então, sagrada por guardar a palavra do Senhor.
Ora, a Palavra do Senhor é Jesus, o Logos, o Verbo de Deus (Jo 1,1; 1 Jo 1,1). A Palavra se fez carne em Maria e habitou entre nós (Jo 1,14; Gl 4,4). Ora, sendo Jesus a Palavra verdadeira, Maria é a Nova Arca. Portanto, ela tem toda a glória que aquela antiga Arca possuía. Assim como a primeira Arca abençoara a casa de Obede-Edom ao lá entrar (1Cron 13,14), assim também a casa de Isabel é abençoada ao receber Maria (Lc 1,41). Assim como Davi se sentiu honrado em receber a Arca nem sua casa (2Sm 6,9), assim também Isabel se felicita por receber Maria em sua casa (Lc 1,43). Você percebeu que João Batista saltou de alegria no ventre de Isabel ao ouvir a voz de Maria? (Lc 1,41). Davi já havia dançado de júbilo diante da 1ª Arca (2Sm 6,16). Assim como Davi e todo o Israel encheu-se de júbilo por estarem diante da arca (2Sm 6,15), Lc 1,42.44 mostra como Isabel e João Batista se encheram de júbilo por estarem diante da Nova Arca do Senhor, Maria, que carregava a Palavra de Deus, o Senhor Jesus.
Ora, se Maria é a Arca da Nova Aliança, então ela deve ter sido pura e não poderia haver qualquer tipo de pecado nela. Se não era idolatria todo aquele respeito que se tinha pela antiga Arca, também não o é o respeito que temos por essa Nova Arca, a mãe de Jesus. Sendo Maria a Nova Arca, ela tem, com certeza, um lugar todo especial na nova Israel, a Igreja do Senhor.
As provas bíblicas da imaculada conceição de Nossa Senhora não param por aqui. Conforme Ex 19,22 e Lev 10,3, os sacerdotes deviam se santificar para se aproximarem do Senhor. É óbvio, então, que maior santificação devia ter a mulher que engravidaria de Cristo.
Paremos aqui para uma reflexão: se Maria teve pecado, ela foi, então, a única morada impura de Deus. Ela foi a única exceção da regra. Mas por que a exceção seria justamente aquela que mais teve Deus completamente, fora o céu e a Eucaristia, dentro de si? Outra coisa: por que a única regra de fé dos irmãos separados não diz que ela foi exceção? Não! Não dá para imaginar o meu único Deus, o meu único Salvador, deixando-se habitar num templo impuro. Justamente Ele que tanto exige um templo puro, santo, reservado só para Ele. Desculpem-me os evangélicos, mas não creio nesse tipo de Deus.
Além de tudo o que foi dito até agora, mais dois outros textos bíblicos vêm confirmar essa santa doutrina; são as passagens de Gn 3,15 e Lc 1,28. Veja cada uma:
Assim reza o texto de Gênesis sobre o que Deus disse à serpente: “Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a dela; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.”
Ao tentar a mulher, a serpente é amaldiçoada. Ali mesmo, o Senhor promete a restauração daquele mal. Ele promete a vinda do Salvador. Segundo as palavras claríssimas de Deus, o Salvador seria semente da mulher. Todos concordamos que a mulher aí citada não é Eva, mas Maria, pois fora dela que saiu o Senhor. Assim como por Eva veio o pecado, por Maria veio a salvação, Jesus. Observe atenta-mente a frase inicial: a mulher da qual sairia o Salvador seria inimiga da serpente. Ora, o pecado nos torna inimigos de Deus e amigos do demônio. Morrendo por nós na cruz, Jesus nos faz amigos de Deus e inimigos do mal. Conforme as palavras do próprio Deus, sendo Maria inimiga da serpente, evidentemente é ela imune do pecado.
O texto de Lucas também no-lo confirma. Vejamos as palavras do anjo ditas a ela:
“E entrando o anjo onde ela estava, disse: Salve, cheia de graça; o Senhor está contigo.”
Note a expressões “cheia de graça” e “o Senhor está contigo”. Um copo cheio de água não precisa mais de água. Se Maria era cheia de graça, também não precisava mais de graça, pois lhe faltava a graça da santificação, da imunidade do pecado. Além do mais, perceba que o anjo lhe faz uma afirmação, não um desejo. “O Senhor está contigo”; não diz “O Senhor esteja...” Ora, o Senhor só habita em templo puro. Isso já foi provado.
Claramente, todos os textos citados confirmam que Maria foi imaculada, mas para mim basta saber que ela foi mãe de Jesus para me convencer disso, pois para ser mãe dEle, só uma mulher verdadeiramente pura poderia ser.
Depois de tantas provas, como ficam aqueles textos que atrapalham as cabeças dos anti-marianos? Como explicar, então, os textos “e todos pecaram e destituídos estão da graça de Deus” (Rm 3,2)? Como explicar que Maria tenha um Deus salvador se ela não tinha pecado (Lc 1,47)? Além disso, como explicar o fato de Maria ter se purificado se ela não tinha pecado (Lc 2,22)?
Vamos à explicação:
1) Rm 3,23- Se compararmos esse texto com Lc 1,28 resolvemos logo a questão: enquanto todos estão destituídos da graça de Deus, Maria é cheia dela. Se Adão e Eva não tivessem pecado, todas as criaturas seriam, por um direito de herança, imaculados, puros. Mas, antes de gerar, Adão pecou. Dizendo que “todos pecaram”, S. Paulo está dizendo que toda humanidade, sem exceção alguma, inclusive Maria, perdeu esse direito de herança. Acontece, porém, que embora não tendo o direito de herança da pureza, Maria Santíssima o recebeu por presente, como todos nós. Só que ela recebeu antes mesmo de nascer.
Outra coisa: é necessário esclarecer em que consiste a transmissão do "Pecado Original". É lei geral: "Todos os homens pecaram num só", tal lei é certa, entretanto, como veremos, ela em nada se choca com a doutrina católica.
S. Francisco de Sales, no seu "Tratado do amor de Deus", exprime essa verdade de um modo singelo e glorioso! "A torrente da iniquidade original veio lançar as suas ondas impuras sobre a conceição da Virgem Sagrada, com a mesma impetuosidade que sobre a dos demais filhos de Adão; mas chegando ali, as vagas do pecado não passaram além, mas se detiveram, como outrora o Jordão no tempo de Josué, aqui respeitando a arca da aliança a torrente parou; lá em atenção ao Tabernáculo da verdadeira aliança, que é a Virgem Maria, o pecado original se deteve."
Devemos compreender a diferença essencial que há entre "pecar em Adão" e "pecar pessoalmente", como são coisas bem distintas pertencer a uma raça pecadora e ser pecador.
De que modo, afinal, contraímos nós o pecado original?
Tal transmissão não se pode fazer pela "criação" da alma; afirmar isso seria dizer que Deus é o autor do pecado, o que é impossível e repugna. Não se transmite tão pouco pelos pais, pois a alma dos filhos não se origina das almas dos pais, mas é criada por Deus. A transmissão se efetua pela "geração".
A alma é criada por Deus no estado de inocência perfeita, mas contrai a "mácula", unindo-se a um corpo formado de um gérmem corrompido, do mesmo modo que ela sofreria, se fosse unida a um corpo ferido, como bem expressou Santo Tomás.
Santo Agostinho diz a propósito: "Apesar de nascerem de pais batizados, os filhos vêm à luz com o pecado original, como do trigo inutilizado germina uma espiga, em que o grão é misturado com a palha."
Nesse mistério do nascimento de uma criança, pelo exposto, opera-se uma dupla conceição: a da alma e a do corpo. Foi nesse momento quase imperceptível que Deus preservou do pecado original a "pessoa" de Maria Santíssima. Criou sua alma, como criou as nossas. Os progenitores de Nossa Senhora formaram-lhe o corpo, como nossos pais formaram o nosso. Até aqui tudo é natural; o milagre da preservação limita-se ao instante em que o Criador uniu a alma ao corpo.
Desta união devia resultar a "trans-missão do pecado". Deus fez parar o curso desta transmissão, de modo que nela a união se operou, como se tinha realizado na pessoa de Adão, quando Deus, depois de ter feito o corpo do primeiro homem, soprou nele o espírito, constituindo-o na perfeição da inocência e justiça original.
Maria é uma segunda Eva... mas Eva antes de sua queda!
A Exceção à Lei Geral
Seria negar a onipotência divina objetar-se que Deus não tem poder para derrogar as leis gerais por Ele mesmo estabelecidas
É uma lei geral que "todos pecaram num só". Tal fato é universal, e todas as criaturas a ele estão subordinadas. Todavia, nada impede que, antes de efetuar-se a união da alma com o corpo, Deus possa intervir e suspender "um dos seus efeitos", o qual é, precisamente, a transmissão desse "pecado original".
A Bíblia sagrada está repleta dessas derrogações de leis gerais. O movimento do sol e da lua está matematicamente fixado pela lei da natureza; entretanto, Josué não hesitou em fazê-lo parar: "Sol detém-te em Gibeon, e tu, lua, no vale de Hadjalon. E o sol deteve-se e a lua parou" (Jos 10, 12-13).
É uma lei que as águas sigam a correnteza do seu curso. Entretanto, "Moisés extendeu a mão..." o mar deixou livre o seu leito, partiram-se as águas, com um muro à sua esquerda e à sua direita (Ex 14, 21 e 22).
É uma lei que um morto fique morto até à ressurreição geral; entretanto, o próprio Cristo-Deus, diante do cadáver de Lázaro, já em putrefação, exclamou: "Lázaro, sai!" (Jo 11, 43 e 41). E imediatamente aquele que estava morto saiu vivo.
Tudo isso só demonstra que "para Deus nada é impossível" (Lc 18, 27). Será, então, impossível que Deus preservasse Maria Santíssima do Pecado Original?
Se a lei geral fosse superior ao poder de Deus, como ficaria o Homem-Deus? Ele, em sua natureza humana, foi preservado do pecado original, mesmo nascendo de uma mulher. Se fosse impossível a Deus manter Imaculada a sua Mãe, também seria impossível manter "imaculado" o Seu Filho único, que nasceu verdadeiro Homem e verdadeiro Deus.
2) Lc 1,47- Outro texto que nada prova,
pois é claro que Deus é o salvador de Nossa Senhora. Não foi por um
direito seu que Maria foi preservada do pecado. Acabamos de dizer que
não. Foi por mera dádiva divina, em virtude da honra e dignidade de
Jesus. Jesus foi, portanto o salva-dor de Maria. A única diferença é que
ela foi salva antes de nascer.
3) Lc 2,22- Esse é que nada prova mesmo,
pois não se refere à purificação de pecado, mas a uma purificação legal.
Os judeus achavam que ao dar à luz, a mulher ficava impura (Lv 12,2-7).
Para se purificar, a mulher devia oferecer um par de rolas ou dois
pombinhos, caso ela fosse pobre (Lc 2,24). É lógico que Maria Santíssima
não precisava dessa purificação, como Jesus não precisava ser
circuncidado, no entanto, fizeram-no por causa da prescrição legal.
Não há aqui em nenhum desses textos nada que afete a imaculada conceição da mãe de Nosso Senhor.
Em vez de nos chatearmos com a pureza da Virgem Santa deveríamos, sim, procurar viver como ela viveu, sendo fiéis a Deus e ao próximo. Apesar de mera criatura, Maria é o melhor exemplo, é um paradigma de serva do Senhor, de mãe, de mulher, de filha, de esposa. Se encararmos Maria como a mulher que nos ensina a dizer “sim” a Deus, a mulher que nos ensina a fazer o que Jesus nos ordena e se com ela aprendermos que devemos ser “cheios de graça” para que o Senhor em nós possa habitar, o nosso mundo será outro, o nosso mundo irá se tornar o reino da paz e do amor. Enquanto tantos procuram achar pecado na mãe de Cristo, nós devemos imitá-la para nos tornar, como ela o foi, templos vivos do Senhor.
Professor Evaldo Gomes
Marcadores:
Imaculada conceição,
maria,
Pecado,
Pecado Mortal,
pecado original