Existem dois tipos de argumentações que normalmente são feitas e que
mostram que o protestantismo não faz sentido. O primeiro tipo delas é
mostrar que suas objeções não fazem sentido, o que na maioria das vezes é
fácil, e, hoje, apesar dos empecilhos mais emocionais que racionais,
estão vindo cada vez mais à tona. O que é ruim para a mentira pregada
(mesmo que sinceramente) dos deformadores. Deformada, sempre deformando.
No segundo tipo se encontram as incoerências do próprio protestantismo
em relação à mensagem Cristã, o que mostra que é tudo, menos algo
fundado por Jesus.
Dentre esses do segundo tipo, a questão da unidade da Igreja
(característica intrínseca de sua natureza) têm despertado as pessoas,
um dos principais fatores, hoje, é a clara necessidade de união, sendo
que o protestantismo só causa o contrário. Mas mesmo que não houvesse a
necessidade, é fato que Jesus declarou que a Igreja deve ser uma. As
Escrituras também mostram que as divisões não estão de acordo com o
propósito de Deus para a sua Igreja. Cientes disso, algumas pessoas têm
tentado contornar o óbvio com desculpas toscas. Ao ler alguns artigos do
CACP (Centro Apologético Cristão de Pesquisas, ou, como um amigo gosta
de chamar: Centro Apologético “Cristão” de Pesquisas, CA”C”P), encontrei
mais um exemplo desse desespero em um texto escrito pelo Sr. João
Flavio Martinez. Por isso decidi escrever sobre o assunto, não tratando
diretamente palavra por palavra do que o artigo diz, mas mostrando os
equívocos além de explicar elementos que foram deixados de lado pelo
autor do artigo. Mas antes gostaria de citar algumas perguntas que o Sr.
Flávio colocou em sua introdução:
A suposta unidade do catolicismo é sinal de ortodoxia?
Existe base lógica para condenar a diversidade nas igrejas evangélicas
como sinal de heresia? Até que ponto essa unidade alegada pelo
catolicismo é verdadeira? É realmente tão grave esta diversidade no
protestantismo a ponto de não nos enquadrarmos na perícope de João
17.22? E a igreja cristã, sempre teve essa unidade que reivindica o
catolicismo?
Ele tenta responder as perguntas de moto que fique evidenciado que a
Igreja Católica não é Una. Acaba por distorcer as verdades nas Sagradas
Escrituras (e da Sagrada Tradição) para convenientemente apoiar sua
visão preestabelecida de que as divisões não significam que as diversas
igrejas protestantes não estão contrário ao ensinamento apostólico.
Pior, tenta argumentar que a Igreja desde sempre possuía divisões. Houve
vários equívocos, dentre eles que não existia hierarquia na Igreja
primitiva, mas dentre esses equívocos o pior é utilizar de sofismas para
defender que a Igreja pode ter diversos ensinos doutrinários e ainda
ser uma. Por isso antes de tudo, vamos ver o que as Escrituras ensinam
sobre a unidade da Igreja, e a Igreja como um corpo. Não desejo
distorcer as escrituras para que seja conveniente a minha visão. Ou
seja, mesmo que a passagem se torne algo difícil de explicar diante das
supostas divisões da Igreja Católica. Estaria disposto a admitir que
assim como os protestantes não são um, a Igreja Católica não é una, se
fosse verdade. É claro que aí seria admitir que Jesus errou, pois
instituiu uma Igreja Una, onde as portas do inferno não prevaleceriam,
mas que o inferno teria triunfado (o que não concordo).
A Igreja é comparada a um corpo, onde cada parte do corpo possui sua
função. A mão é diferente dos pés, os pés são diferentes dos olhos e os
olhos são diferentes do nariz. Ambos devem estar em perfeita união e
concordância. Mas uma pessoa não possui apenas mãos e pernas, mas [uma]
mente, um só pensamento. Então, apesar de cada parte do corpo possuir
uma [função] diferente, todas essas partes fazem parte do [único] corpo
que possui um [pensamento]. Não vários pensamentos divergentes e
contraditórios (estamos falando do corpo em que Cristo é a cabeça), mas
um só pensamento. Se Jesus Cristo é a Cabeça e Ele é Deus, então não
pode haver pensamentos divergentes e contraditórios, pelo contrário,
deve haver uma união assim como Jesus é um com o Pai. Uma Igreja que
possui divergências doutrinárias não é [uma] Igreja, muito menos é uma
[Igreja] de Deus. Pode ser igreja de homens ou do demônio, mas não de
Deus.
Jesus disse que devemos ser um assim como ele é um com o Pai (João
17,22). “Como nós somos um”. Jesus demonstra nas Escrituras que é um com
o Pai não só em amor, ou em pequenos detalhes, mas em propósito,
vontade e, principalmente, ensino. Jesus não ensinava aquilo que seu Pai
não havia ensinado, e também não ensinava aquilo contrário ao que seu
Pai lhe dizia. Dessa forma, se a Igreja deve ser unida assim como Jesus é
com o Pai, ela deve ser unida não somente em questões principais,
esquecendo pequenos detalhes, mas até mesmo em questões doutrinárias
mínimas (se é que qualquer questão de doutrina é mínima, sendo que a
Verdade, que é Jesus, é o que importa, seja ela mínima ou não). Diante
disso, vemos descrito por Lucas que “a multidão dos que haviam abraçado a
fé tinha um só coração e uma só alma” Atos 4, 32. Antes de prosseguir,
vejamos o que é colocado no texto sobre a Igreja como um corpo:
É uma unidade no Espírito, pois é a vontade de Deus para
seu povo (Efésios 4.3 – João 17. 11,20,21). Assim, a verdadeira igreja
de Cristo é invisível e espiritual composta de todas as demais igrejas
visíveis pelo vínculo da paz (Hebreus 12.23). Contudo essa unidade não
implica em uniformidade total. É um fato independente da diversidade
exterior. A igreja é comparada a um corpo diversificado (I Coríntios
12.13-26) com diversos ministérios e dons; é a diversidade na unidade.
Um bom testemunho disso tem sido a “Marcha para Jesus”, um evento que é
realizado no mundo todo e tem tido um crescimento vertiginoso a cada
ano. Essa manifestação que inclui centenas de denominações evangélicas é
um fato incontestável do que estamos falando.
Ainda comete a tolice de falar em relação a unidade que “com exceção
das falsas igrejas (seitas), as igrejas evangélicas possuem de fato”. O
que qualquer pessoa sabe que visita tais igrejas sabe que não é verdade.
Nem mesmo a “marcha pra Jesus” (?), exemplo dado no texto, é sinal de
unidade, pelo contrario, de conveniência, e, como está cada vez mais
claro, politicagem. Tanto que nas próprias machas “para” existem
evangélicos criticando essas posturas (o que é um sinal de bom senso).
Alias, o próprio autor admite isso, falando que a unidade seria nos
pontos principais que definem o que é ou não cristão, admitindo assim
que, mesmo em questões aparentemente insignificantes (o que não
concordo), não há essa unidade. Ou seja: um tipo de união totalmente
subjetiva onde se tolera as diferenças mínimas de doutrina e
pensamentos, todos considerados seguidores da Verdade, sendo que essa
verdade é diferente em detalhes. O que conseqüentemente somos levados a
concluir que não seguem A Verdade, pois várias verdades mesmo que
diferentes em detalhes, não são uma única verdade, apesar de
compartilharem de parte dEla. São diversas mentiras que compartilham
características da Verdade, mas não a Verdade. Primeiro confunde a
diversidade de [dons] e de [funções] com diversidade [pensamento]
(doutrinas). Não dando atenção à exortação do Apóstolo Paulo: “guardai a
concórdia com os outros, de sorte que não haja divisões entre vós; sede
estreitamente unidos no mesmo espírito e no mesmo modo de pensar.” 1
Coríntios 1,10. O apóstolo (não esses supostos apóstolos descarados de
hoje) fala, assim como já foi explicado através da conseqüência lógica
das palavras de Jesus, que devemos estar unidos no mesmo espírito e no
mesmo modo de pensar. Para não dar vazão a mais malabarismos, é bom
destacar que esse “estreitamente” ligado não significa que apesar de
deverem estar ligados em questões principais, podem discordar em
questões não muito importantes, a não ser que alguém queira crer também
que esse era o tipo de crença entre Jesus e o Pai a respeito de seus
ensinos, a respeito da Verdade (que é o próprio Jesus).
Discordando do ensino apostólico, é dito que podemos discordar em
questões negociáveis. Questões que definem quem ou o quê é cristão. Bom,
gostaria que fosse sincero consigo mesmo: Se o batismo é apenas
simbolismo ou um sacramento é importante ou não? É claro que é
importante, mas a hipocrisia faz isso ser considerado negociável.
Devemos negociar a Verdade? Jesus está presente no pão e vinho? Alguns
protestantes ensinam que sim, outros que não, muitos (como eu
antigamente) nem imaginava que a idéia de estar presente de fato no pão e
vinho de forma que também é um sacramento. Isso é negociável? Não, não é
negociável: a Verdade não é negociável. Mas as igrejas protestantes
ensinam de forma diferente negociando a verdade. Parece até mesmo um
novo tipo de mercadores da fé, onde não se visa o lucro, mas a
conveniência. A Verdade é transformada em questões negociáveis ou não,
onde em nome de uma suposta unidade de paz apenas essas diferenças são
toleradas. Segundo o autor do texto, itens negociáveis não determinam se
a pessoa é ou não cristã. Fico a me perguntar a partir de que padrão
podemos determinar se uma pessoa é ou não cristã, e a partir de que
padrão objetivo podemos saber quais são ou não os itens negociáveis de
uma “verdade que diverge entre si” sendo que os apóstolos ensinaram
constantemente o contrário, pois eles ensinaram sobre [uma] Igreja, e
por ser [uma] é universal (Católica). Não toquei na questão a
universalidade e unidade de crenças por acaso, e sim porque mais um
equivoco (cada vez mais surgem equívocos sem tamanho) em relação a
Igreja Católica. Ele dá a entender que há diversidade doutrinaria no
catolicismo, sendo que não pode haver por definição, pois as crenças da
Igreja Católica devem ser universais, por isso quem não possui uma
crença contrária, pode ser qualquer coisa menos católico. Mas então,
como pode possuir crenças universais se foram apresentadas tantas
diferenças? A resposta é que as diferenças não são em doutrinas
estabelecidas, mas em costume e em doutrinas ainda não estabelecidas.
Para um melhor entendimento, decidi tratar em outro item.
- Diversidade na Igreja Católica?
Antes de explicar quais tipos de diferenças existem, penso que seja
interessante fazer um resumo de como elas surgiram na história da
Igreja. Essa questão então vai aos tempos apostólicos, quando as
primeiras igrejas eram fundadas. Depois que os apóstolos fundaram várias
comunidades cristãs, certos lideres eram instruídos, inclusive na forma
de instruir os novos lideres. Eles possuíam uma mesma fé, passada de
forma unanime pelos apóstolos, por isso a Igreja era uma, onde “a
multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só
alma”. É claro que algumas questões não estavam completamente
desenvolvida, questões como a explicação e conciliação dos ensinos
apostólicos. Com o passar do tempo essas comunidades cristãs passaram a
expressar a fé de forma diferente, devido a sua cultura e língua. Mas
eles não tinham diferenças nas doutrinas, pois acreditavam na Igreja
Una, assim como dizem os credos, mas nas [expressões] dessa fé e sua
forma de conciliar e explicar o que foi ensinado pelos apóstolos. Como
algumas questões foram deixadas em aberto pelos apóstolos, surgiram
aparentes divergências doutrinarias, e as vezes divergências de fato,
entretanto todos sabiam a necessidade de ter um só pensamento, por isso
eram feitos os concílios. Ambos observavam determinada doutrina, e se
ela tivesse sido repassada pelos apóstolos aos seus sucessores (e assim
por diante), então essa doutrina era aceita por ser Universal
(católica). Essa era a forma de decidir os primeiros concílios e
sínodos. Concílio, uma palavra que os protestantes poderiam aprender a
usar. A forma de expressar era particular em cada igreja, mas a fé era
universal (Católica). Os apóstolos também faziam isso, como é
demonstrado em Atos 15. Os judeus tinham o costume da circuncisão, como
determinava a lei, mas os gentios não precisavam seguir isso por conta
da Nova Aliança, mesmo assim o costume dos judeus foi preservado, mesmo
sabendo eles que não era algo necessário à Nova Aliança. Dessa forma é
totalmente explicável que a questão doutrinaria possa divergir em sua
expressão, ou até que ela seja conciliada posteriormente quando a
questão se torna resolvida (como foi os exemplos, que não será
necessário citar). Foi assim com a Divindade de Jesus, a Trindade, a
Infalibilidade Papal e o Canon (não falo do Canon protestante
retalhado).
Fica evidente que não é o tipo de diferença que existe nas igrejas
evangélicas. É claro que nas Igrejas evangélicas existem aparentes
diferenças, mas em outras há diferenças doutrinárias de fato que estão
contrárias ao ensino apostólico, principalmente o da unidade que não se
pode mais assumir.
No mais, Sr. João Flavio Martinez, gostaria que mostrasse de forma
mais detalhada os “77 pais que comentaram este verso apenas 17 opinaram
que se refere a Pedro”, e o fato deles terem comentado como não se
referindo a Pedro significasse que eles não acreditavam nisso. Várias
pregações, por exemplo, são feitas sobre determinados trechos bíblicos, o
que não significa que o pregador não acredita na questão fundamental
ensinada. Seria interessante também notar a diferença da Igreja Católica
do México que não faz parte da Igreja Católica Apostólica Romana, e é
sim mais uma seita como as igrejas protestantes que surgem a cada
descobrimento da América.
Em resumo, a Igreja de Cristo deve ser uma, mas pode divergir em
[expressões] da única fé que seguem (Romanos 14, por exemplo), mas não
nas questões de fé (depois de terem sido resolvidas).
O protestantismo falha em ser um assim como o Pai é um com Jesus, e
assim como os primeiros cristãos eram um: em vontade, crenças e amor
(deixando de lado, assim, certos costumes). No entanto, se o Espírito de
Deus tivesse dado inicio a “deforma protestante”, ambos reformadores
saberiam das doutrinas que estavam erradas e não divergiriam tanto
formando essa Babel Doutrinária onde a única coisa que concordam é que
devem criticar a Igreja Católica a qualquer custo.
A Igreja de Cristo só pode logicamente subsistir na Igreja Católica,
pois é este corpo em unidade que possui as características da Igreja que
Jesus disse que as portas do inferno não prevaleceriam. Afinal, há um
só Deus, um só Espírito Santo, um Senhor, uma só Igreja, e uma só fé.
Autor: Jonadabe Rios