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sexta-feira, dezembro 06, 2013
segunda-feira, fevereiro 13, 2012
Ana Paula Valadão e a Patristica Católica
A profetisa Ana paula valadão vem usando as patrísticas católicas em seus cultos confira no video onde a mesma vem falando do martirio de policarpo .
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quarta-feira, setembro 22, 2010
O "discurso anti-infalibilidade do Papa" do Bispo Strossmayer
Algumas reflexões sobre o
"famoso discurso" do Bispo Strossmayer durante o Concílio Vaticano I
(1869-1870)
Um discurso fantasma? Quem o
escreveu? A história de um grande bispo e de uma grande mentira
Passados alguns anos, vários fatores
fizeram com que voltasse às minhas mãos o "famoso discurso". Desta vez
já não pude conter: "esse discurso contém uma série de estupidezas;
nenhum bispo, por mais herege que seja, escreveria e pronunciaria algo
assim; os hereges seriam mais sensatos que Strossmayer!" - pensei.
Me veio então a dúvida: "E se esse discurso for uma invenção?"
Para aumentar as dúvidas colaborou um querido amigo da Espanha, L.F.P.,
ex-cristão evangélico. Este amigo me garantiu que, na realidade, esse
discurso jamais existiu, de modo que, aproveitando o fato de me
encontrar próximo das maiores bibliotecas do cristianismo [Roma], decidi
gastar algum tempo procurando o "famoso" discurso de Strossmayer, bem
como de qualquer material que servisse para esclarecer a verdade
histórica. Principalmente porque confiava na boa vontade e boa intenção
das pessoas (na maioria cristãs), aceitava eu "o fato" do tal discurso
segundo publicavam diversos sites. Mas o que encontrei foi uma
gratíssima surpresa: não apenas o bispo Strossmayer não foi nenhum
herege violento, como se tratava de um grande homem da Igreja, um
lutador incansável pela unidade dos cristãos, um gigante da cultura
eslava, um gênio político, um pai para o seu povo e um precursor do
Concílio Vaticano II. Com efeito, aproveito este espaço para
colocar um grão de areia no dever de limpar um pouco o seu nome. (...)
* * *
Resumo das conclusões que pude chegar a
partir da leitura do material coletado. Ao final, o leitor encontrará a
bibliografia consultada e o que alguns autores dizem a respeito de
nosso personagem. Que cada um tire as suas próprias conclusões...
PRIMEIRA CONCLUSÃO: O dito discurso não existe; é uma
fraude criada por José Agustín de Escudero.
Nas atas do Concílio (ver abaixo, há
várias versões) encontram-se registrados todos os discursos que o bispo
croata pronunciou durante todas as assembléias conciliares
(encontram-se todos os discursos pronunciados por TODOS os bispos).
Mons. Strossmayer pronunciou CINCO discursos, nestes dias
respectivamente: 30/12/1869, 7/2/1870, 24/2/1870, 22/3/1870 e 2/6/1870.
Destes discursos, NENHUM coincide, ainda que remotamente,
com o suposto "famoso discurso". Ou seja, o tal discurso não foi
pronunciado no Concílio Vaticano I por Strossmayer.
protestantes) seria um artigo publicado
na "The Catholic Encyclopedia" sobre Strossmayer (tal artigo pode ser
lido em http://www.newadvent.org/cathen/14316a.htm).
A respeito disso, temos duas coisas a observar:
a) A "The Catholic Encyclopedia" não
é uma fonte, mas um artigo, que supostamente
sintetiza o trabalho que alguém fez sobre as "fontes". "Fonte" é onde
alguém pode ir ler o suposto discurso em primeira mão ou obras que
reportam os documentos originais.
b) Na verdade, esse artigo da
enciclopédia não diz que o bispo Strossmayer tenha
pronunciado esse "famoso" discurso, mas que "um
discurso que pronunciou, defendendo o protestantismo, causou agitação" (ver
o discurso de 22 de março de 1870, para constatar de que modo
"defendeu o protestantismo"; v. tb. na bibliografia o que registra R.
Aubert acerca do mesmo discurso e o de 2 de junho) e que logo "se
lhe foi atribuído outro", que seria (talvez, porque não menciona a
data) o "famoso", sem observar que a própria enciclopédia adverte, a
saber, que "se lhe foi atribuído" esse discurso, mas que "pensa-se
que o falsificador tenha sido o ex (monge) agostiniano, mexicano, de
nome dr. José Agustín de Escudero".
c) A mesma enciclopédia,
no artigo sobre o Concílio Vaticano I, diz:
"o discurso conciliar publicado sob o
nome do bispo Strossmayer é uma falsificação feita
pelo monge agostiniano apóstata, do México, José Agustín de Escudero,
que então se encontrava na Itália" (cf. Granderath-Kirch III, 189).
Efetivamente consultamos a fundamental
obra dos historiadores Granderath-Kirch e, nessa mesma página,
encontramos a seguinte nota, que traduzimos completamente, dada a sua
importância por mencionar dados sobre este "monge agostiniano
apóstata", verdadeiro autor do calunioso escrito. Diz Granderath:
"[...] Logo, em 1871, apareceu um
fragmento de literatura pretendendo ser parte de um discurso proferido
em 2 de junho de 1870 pelo bispo Strossmayer no Concílio. Esse discurso
é fictício do princípio ao fim. Está repleto de heresias e nega não
apenas a infalibilidade papal como também a primazia do Pontífice.
Mons. Strossmayer e todos os outros
membros do Concílio declararam uma e outra vez que este discurso
atribuído a mons. Strossmayer era uma falsificação, mas isso não impediu
que continuasse circulando.
Na Inglaterra e na América
continuou sendo distribuído e, a partir da América, em 1890, chegou a
diversas revistas protestantes alemãs. Estas se retrataram quando os
colaboradores de mons. Strossmayer protestaram contra tal libelo. No
entanto, em 1981, o discurso ressurgiu novamente como um dos panfletos
que a Liga Evangélica intitulou: "Hier stehe ich. - Ich kann auch
anders. Aus dem Leben eines römisch-katholischen Bischofs" ? pelo Dr.
R. Krone á Messkirch ("Aqui Permaneço ? Não Posso Agir de Outra
Maneira ? da vida de um Bispo Católico Romano").
Provas evidentes da falsidade do
discurso não detiveram nem o autor nem o editor, D. L. Witte á
Pforta, de continuar difundindo o libelo, de tal forma que se
solicitou a publicação de todos os discursos do Concílio. Obviamente, a
publicação dos discursos não foi devida às falsidades previamente
publicadas. Mesmo assim, eu [Granderath] tenho lido todos os discursos
do Concílio e testifico que mons. Strossmayer jamais pronunciou o
discurso que a Liga Evangélica difundiu, nem em 2 de junho, nem em
nenhum outro dia do Concílio.
Em 1876 o bispo Strossmayer foi
informado da autoria original da falsificação através da seguinte
carta, cuja cópia encontra-se juntada ao Apêndice das Atas do Concílio (Acta
etc. IV b, 649 ss.):
'Buenos Aires, 18 de agosto de 1876.
Monsenhor: Permita dirigir-me a
Vossa Excelência para enviar, anexa à presente, uma edição de "América
del Sud" que foi publicada aqui. Contém, sob o título "La Verdad en el
Vaticano" (=A Verdade no Vaticano) a confissão de um homem que provocou
grave dano ao senhor e que, oportunamente, publicou um discurso sob o
vosso nome no Vaticano e que certos protestantes têm circulado por
aqui. Ao final, este homem reconhece ser o autor e tenta remediar pelo
menos alguns dos problemas causados.
Embora eu não cultive qualquer
relação com o autor, parece-me que deseja que a sua retratação seja
conhecida na Europa. O dr. José Agustin de Escudero é mexicano e já foi
agostiniano, deixando sua ordem não amistosamente. Empreendeu viagem
pela Espanha e França. Na época do Concílio, esteve também na Itália.
Tornou-se protestante, maçom, "carbonário", pregador e até já se fez
passar por bispo protestante, causando problemas no Brasil e em
Montevidéu. Aqui em Buenos Aires voltou a se reconciliar com a Igreja e
se casou logo após seus votos sacerdotais terem sido anulados [?] em
Roma. No tempo da retratação citada acima, era colaborador de "América
del Sud", da qual é atualmente editor. Se a sua conversão é verdadeira,
só Deus sabe. Eu duvido. Se Vossa Graça Episcopal desejar maiores
informações, coloco-me à sua disposição fazendo-lhe saber o meu
domicílio:Sr. D. Pedro Stollenwerk, Missionário Lazarista, Buenos
Aires. Calle Libertad, Hospital Francês.
Requisitando sua bênção episcopal,
atenciosamente etc..."
"Jos. Wallinger, Secretário Episcopal,
dá fé de que é copia do original. Djakovo, 30 de Dezembro de 1876."
Esta nota foi retirada da edição
francesa da monumental "História do Concílio" (v. bibliografia mais
abaixo), p. 189, nota. [...]
Para se ter uma idéia da
superficialidade com que estes temas são tratados por certos sites onde o
discurso aparece, em alguns deles se lê:
"Cabe à Igreja Católica Romana
provar que Strossmayer não se pronunciou no Primeiro Concílio do
Vaticano e que não se pronunciou contrário à infalibilidade do papa.
Contudo, a história é explícita, tanto por sua própria enciclopédia, que
é perfeitamente clara e explícita em tal assunto, como por testemunhos
coletados. Por outro lado, seria desejável que a Igreja de Roma
trouxesse à luz todos os documentos desse controvertido Concílio".
Estes textos são traduzidos de sites
em inglês, onde TODOS dizem a mesma coisa. Voltaremos a este parágrafo
no final.
Dizem, ao apresentar o "discurso":
"A Igreja Católica Romana não
aprecia o discurso pronunciado pelo bispo Strossmayer no Primeiro
Concílio do Vaticano, em 1870, quando a infalibilidade papal foi
promulgada como dogma oficial. Na verdade, há autoridades
católico-romanas e alguns apologistas que negam a sua autenticidade. Por
quê? Porque negava a primazia de Pedro como a Rocha de fundamento do
papado".
Como nos consideramos entre os ditos
"apologistas", que negamos a autenticidade do discurso, fomos constatar
a veracidade do mesmo e nossa resposta é clara e definitiva: tal
discurso não existe. Se alguém precisa provar algo, na
realidade, é quem alega que o referido discurso existe. As provas que
apontamos aqui e na bibliografia (e no trabalho de Ivan Tomas) são
determinantes: este discurso é FALSO.
Ora, que Strossmayer tenha falado contra
a oportunidade de se declarar o dogma, não cabe nenhuma
dúvida a respeito, estudando-se os discursos. Porém, isso não
assusta a nenhum católico: que em um Concílio haja opiniões da minoria
distoantes da opinião da maioria e da eventual declaração de um dogma,
isto não traz nenhuma
dificuldade de nenhuma
espécie. Nesse sentido, não foi apenas Strossmayer que falou contra a oportunidade
de se definir o dogma (mais do que contra o dogma em si e por motivos
sobretudo ecumênicos, como aparece no artigo de Ivan Tomas). Mas o que
tratamos aqui não diz respeito à infalibilidade [papal], mas se
Strossmayer de fato pronunciou esse discurso ou se o
suposto discurso é uma grande mentira.
[...]
SEGUNDA CONCLUSÃO: Strossmayer nasceu, viveu e morreu
como um fervoroso católico.
Esta é a parte mais gratificante de
nossa pequena investigação: encontrar um grande homem como Strossmayer,
católico, homem de ação, apaixonado pela unidade dos cristãos. Antes e
DEPOIS do Concílio recebeu as honras do papa Pio IX (promotor e
executor do Concílio) e Leão XIII, que o defendeu vigorosamente contra o
então imperador austríaco (1888); em 1893, por exemplo, o Vaticano
publicou o primeiro missal em língua glagolítica (o idioma inventado
pelos santos Cirilo e Metódio, de onde provém a escrita de todas as
línguas eslavas) a pedido de Strossmayer. E como
estes, há muitíssimos outros dados sobre a catolicidade e zelo
apostólico de Strossmayer, que não vem ao caso expor aqui.
TERCEIRA CONCLUSÃO: Strossmayer pronunciou CINCO
discursos; NENHUM atacando a infalibilidade do papa.
O que ele pretendia, basicamente, era o
seguinte: não deixar o ofício do bispo à penumbra, fazer com
que a infalibilidade da Igreja recaisse também sobre todos os bispos
em comunhão com o papa, e, sobretudo, não declarar um dogma que -
segundo ele - dificultaria aos Ortodoxos o caminho da unidade
(e também aos Protestantes, obviamente), caminho que ele havia
preparado por anos de contatos com a Igreja Ortodoxa na Croácia e
Rússia, especialmente. Esses eram os problemas de Strossmayer, essa era a
sua opinião ante a eventualidade da declaração do dogma. Se alguém
duvida, que nos diga em qual discurso ele "diz o
que dizem que disse" (o "famoso discurso", como vimos, é um
fantasma) e iremos consultá-lo e lhe mandaremos a seguir o texto latino
do discurso com a sua respectiva tradução.
QUARTA CONCLUSÃO: Strossmayer aceitou as declarações
do Concílio.
Que lhe tenha custado enormemente
aceitá-lo, ou que durante o Concílio tenha feito o possível
para que não fosse declarado o dogma, ou que após o Concílio,
privadamente a seus amigos, manifestou sua rejeição, não revoga o fato de que,
como pastor católico que era, tenha aceitado o que a Igreja havia
decidido. De fato, Strossmayer não se uniu com os
"vétero-católicos", cisma de proporções muito menores surgido
após o Concílio, por não aceitar a infalibilidade papal, como queriam
que se unisse a eles, já que tinha muita autoridade ali. Strossmayer fez
publicar em sua diocese os decretos do Concílio (há dúvidas
hoje em dia sobre o entusiasmo com que fez isto - coisa mais que
compreensível - porém, isso não altera que, sob o seu governo, foi
publicado em sua diocese todo o material do Concílio; ver a respeito o
trabalho de I. Sivric, que citamos na bibliografia) e morreu aceitando
sem nenhum "porém" as doutrinas conciliares. As dificuldades podem
existir - e realmente existem - na compreensão e aceitação de um dogma,
como entre nós ninguém está obrigado a estar convencido
da Trindade, bastando que creia que é assim porque
Deus revelou, custe ou não enquanto "ser racional". Foi assim que agiu
Stossmayer. Mais detalhes na bibliografia.
QUINTA CONCLUSÃO: A maior parte de seus pontos de
vista, impensáveis para a época, foi retomada no Concílio Vaticano II
(1962-1965)
[Strossmayer] foi um homem visionário.
Alguns pontos não poderiam ser sustentados hoje por haver um dogma
definido (mas não estava definido enquanto discutiam!!), contudo,
recordemos que trata-se de um padre conciliar, que expõe na aula aquilo
que pensa sobre temas que nem todos aceitam. Mais tarde - como já
sabemos - aceitou toda a doutrina, conservando-se em total comunhão com a
Sé de Pedro. Ademais, um dos pontos em que mais insistia era na linguagem
a ser usada para tratar com os não-católicos, coisa que, para
aquela época, era uma visão de futuro, posteriormente plenamente
aceito pela Igreja.
SEXTA CONCLUSÃO: Strossmayer era um grande admirador
do Concílio de Trento
E, em mais de uma oportunidade, o
apontou como exemplo de como devia ser o Concílio em questão, que
impunha demasiadas restrições aos bispos.
SÉTIMA CONCLUSÃO: Após o Concílio trabalhou
incansavelmente pela união dos ortodoxos e protestantes com a Igreja
Católica.
* * *
Na verdade, o único ponto que interessa
para o que estamos abordando é a primeira conclusão, ou seja, o "famoso discurso" é uma fraude.
Não estamos presenciando hoje, com nossos os próprios olhos, como
surgem as "lendas urbanas"? Quantos crêem hoje que esse discurso foi
pronunciado por Strossmayer em razão da "difusão" que lhe deram os sites
que o publicaram e o publicam? Quantos estariam dispostos a mudar
de idéia baseados nos documentos aqui apresentados?
Pois bem. Quem deseja conhecer a
verdade, agora pode conhecê-la.
Bibliografia Consultada
1. Fontes sobre as intervenções
no Concílio
- COLLECTIO LACENSIS: Acta
et decreta sacrorum conciliorum recentiorum, VII, (Acta et decreta S.
Oecumenici Concilii Vaticani), Friburgo 1890. Uma segunda
edição, de 1892, traz mais detalhes e documentos (Acta et
decreta S. Conc. Vaticani cum permultis aliis documentis ad concilium
eiusque historiam spectantibus, também em Friburgo; nesta
edição, os documentos que nos interessam estão nos volumes 49 a 53).
- I.D.M. MANSI: Sacrorum
conciliorum nova et amplissima collectio, volumes 50, 51
e 52, sob os cuidados de I.B. Martin e L. Petit, Paris 1911-1927. Esta
é a coleção de maior autoridade. Aqui estão todos os
discursos proferidos na aula conciliar (99,9% em latim); os discursos
foram registrados estenograficamente por várias
pessoas e logo após publicados e arquivados nos edifícios
vaticanos, de onde estes historiadores escreveram suas obras (coleções,
histórias, edições críticas etc.). Esta é a fonte principal, aqui se
encontra o que foi dito (ou NÃO!) na aula conciliar. Não são os
discursos que os padres conciliares escreveram, mas o que eles de
fato pronunciaram, com registro de hora, circunstâncias,
personagens, intervenções dos ouvintes, tudo.
Notemos que, paralelamente às atas
encontradas nestas obras (e em outras), existem os diários
de alguns dos padres conciliares, que escreviam durante as sessões.
Estes diários coincidem
com as atas 100% no tema que ora abordamos (os discursos de
Strossmayer). Citamos um diário mais abaixo, na bibliografia, mas há
vários outros.
A "The Catholic Encyclopedia", na nota
sobre o Concílio (nota 1), traz este dado bibliográfico:
"Archives of the Vatican Council: All official papers
relating to the preparations for the Vatican Council, its proceedings,
and the acceptance of its decrees, have been preserved in the Vatican
Palace, in two rooms which were set apart for them. The speeches made
at the general congregations exist in shorthand notes and handwriting;
in addition, Pius IX also arranged to have them printed. The first four
folio volumes were issued by the Vatican Press in 1875-8, the fifth
and final volume appeared in 1884. About a dozen copies of each volume
are in the archives." (="Arquivos
do Concílio do Vaticano: todos os documentos oficiais relativos
aos preparativos para o Concílio do Vaticano, seu andamento e a
aceitação dos seus decretos são preservados no Palácio Vaticano, em
duas salas que foram dedicadas a eles. Os pronunciamentos feitos nas
congregações gerais são conservados em notas estenográficas e
manuscritas; em acréscimo, Pio IX decidiu publicá-las também. Os
primeiros quatro volumes em formato fólio foram editados em 1875-8 pela
Gráfica do Vaticano; o quinte e último volume apareceu em 1884. Cerca
de uma dúzia de cópias de cada volume encontram-se nos arquivos").
2. Histórias da Igreja
consultadas
- Histoire du Concile du
Vatican, depuis sa premiére annonce jusqu'a sa prorogation (uma
tradução do original em alemão), de P. Th. Granderath, SJ,
editada por P. C. Kirch, SJ (1907-1913), cinco
volumes dedicados exclusivamente ao Concílio. É a melhor obra
sobre o assunto. Ver a nota que transcrevemos mais acima sobre a
veracidade do discurso.
- Historia de la Iglesia, de
Flichte-Martin, Volume XXIV, pp. 347-389 e 460. A obra
completa é composta por 30 volumes. Não há qualquer menção sobre o
discurso, afirmando o mesmo que os demais autores citados sobre a
atitude anti-infalibilista de Strossmayer e sua posterior aceitação.
- Manual de la Historia de la
Iglesia, de Hubert Jedin, Volume VII, pp. 1004-1011, Barcelona
(1978). Este "manual" é composto por dez volumes. Ali se escontra,
p.ex.: "estiveram indecisos durante alguns meses (Strossmayer e
outros bispos que tinham a mesma opinião), porém, ao final, nenhum
deles se recusou em dar assentimento ao novo dogma" (p. 1011).
- Storia della Chiesa,
de Roger Aubert, Volume XXI, pp. 495-561,
Turim (1969). Esta obra em italiano é composta por 25 volumes. Ali se
diz, p.ex. (traduzimos do italiano; o que está entre parênteses é
nosso):
Enquanto Strossmayer - que por
muito tempo manteve relações muito cordiais com Döllinger (um teólogo
leigo, que seria logo o líder do cisma "vétero-católico", contrário ao
dogma da infabilidade) e outros teólogos rebeldes do Concílio - jamais
atacou abertamente o Concílio (exceto em privado, como consta na
fotocópia de uma carta a Dupanloup, onde lamenta: 'não posso reconhecer
a legitimidade do Concílio nem a validade de suas decisões), esperando
até dezembro de 1872 (dois anos após a declaração do dogma) para
aceitar abertamente as decisões" (p. 557).
- Historia de los Concilios
Ecuménicos, de Rogert Aubert (a obra é
composta por 12 volumes, um totalmente dedicado ao Concílio do
Vaticano I: vol. XII), Editorial ESET, Espanha (1970).
Transcrevemos o que Aubert (vol. XII, pp. 202-205) escreve sobre o
discurso de 22 de março, o mais temperamental dos cinco discursos
pronunciados por Strossmayer e, por conseguinte, o mais "próximo" do
discurso espúrio:
"As congregações gerais,
interrompidas durante quatro semanas, foram reabertas em 18 de março.
Desta vez, instruídos pela experiência e inspirando-se numa sugestão
feita em outra ocasião por Helefe em seu projeto de regulamento, os
responsáveis julgaram oportuno, antes de conceder a palavra aos Padres,
apresentar-lhes o esquema com um breve comentário em nome da Comissão
da Fé. Este método, que foi usado daí em diante, constituía um real
progresso: isto orientava a discussão e permitiu, ademais, aos teólogos
atuais descobrir a intenção precisa que havia inspirado os redatores do
texto. Mons. Simor foi encarregado dessa apresentação e a cumpriu de
forma satisfatória. Precisou, entre outras coisas, que, embora
modificado o tom professoral do primeiro esquema, havia sido conservado
essencialmente com relação ao fundo, contendo conseqüentemente a
condenação dos mesmos erros[1], pois, ainda que estes
erros, com efeito, sejam ensinados nas universidades, como vários já
haviam feito notar em suas intervenções, extendiam-se também às massas e
não podiam deixar indiferentes os pastores.
Com o novo regulamento, as
observações recaíram, em primeiro lugar, sobre o conjunto do esquema
que, segundo o previsto, não deu lugar a críticas sérias. O cardeal Von
Schwarzenberg fez observar, no entanto, que embora o novo texto fosse
muito superior aos precedentes, teria havido um progresso mais claro se
outros Padres distintos dos da Comissão tivessem sido admitidos à sua
reforma, dando-lhe ocasião para lamentar a forma como estava organizado o
trabalho conciliar. Evidentemente, foi chamado à ordem.
A partir da segunda sessão, em 22
de março foi abordado o exame do Prólogo. Sua discussão daria lugar a
um violento incidente. O último orador da jornada, mons. Strossmayer,
lamentou da forma um pouco irônica com que se havia falado dos
protestantes e assinalou a boa-fé e o espírito cristão existente em
muitos deles; a assembléia começou a murmurar e dois dos presidentes o
interromperam: o card. De Angelis, para dizer que era possível crer na
boa-fé das massas, mas não na dos intelectuais; e o card. Capalti, para
observar que aqui se tratava do protestantismo e não dos protestantes, e
que a forma de falar do orador escandalizava "a maior parte da
assembléia". Mons. Strossmayer, consumado polemista, aproveitou a
ocasião para lamentar a modificação do regulamento que adotava o
princípio da maioria ao invés da unanimidade moral. Capalti replicou em
seguida que se estava desviando do tema e a assembléia protestou cada
vez com maior barulho: "E estas são as pessoas que não querem aceitar a
infalibilidade do papa! Isso é infalível?". E outros: "Esse é Lúcifer.
Anátema! Anátema!". Ou também: "Esse é outro Lutero. Que fique fora!"[2].
O próprio Granderath acredita que "poderia se esperar dos bispos mais
calma e dignidade", porém, observa que esta foi a sessão mais agitada
do Concílio e que os polemistas que têm explorado o incidente, o
apresentam - sem razão - como característico das relações habituais
entre a maioria e a minoria. No que se refere ao próprio incidente,
deve-se considerar que nesta época a maioria dos prelados meridionais,
que constiuíam a maior parte da assembléia, jamais tinham encontrado
diante de si um protestante de carne e osso - a não ser algum sectário
propagandista - nem lido qualquer obra protestante e que suas noções
sobre a questão eram, em geral, muito simplórias. O sucesso foi
certamente muito comentado. Na reunião da minoria francesa, durante a
tarde, mons. Meignan, que pensava fazer o uso da palavra no dia
seguinte, anunciou a sua intenção de desistir, já que previa que a
minoria não poderia se manifestar, porém, algum de seus colaboradores
observou-lhe que, por mais lamentável ter sido o incidente, tinha que se
reconhecer que o orador havia se afastado um pouco do tema e mons.
Dupanloup acrescentou que "ele não imaginava que o protesto tivesse
reunido certo número de adesões, tendo em vista o ruído ocasionado".
Mons. Meignan tomou, pois, a palavra no dia seguinte e, usando um tom
mais moderado, lamentou também, sem ser interrompido, algumas expressões
excessivamente duras usadas contra os protestantes[3];
pediu que a respeito dos erros em matéria exegética a escola mítica
não fosse a única considerada, mas que se considerasse também a escola
crítica, muito mais influente no momento ("é necessário que um Concílio
Ecumênico não pareça ignorar o estado presente da exegese", anotava
ele em seus papéis).
Notas
[1] Do ponto de
vista da metodologia teológica,a observação é importante, pois pode-se
concluir que para descobrir o alcance exato das definições do Concílio é
necessário, entre outras coisas, recorrer às abundantes explicações
fornecidas nas notas do primeiro projeto. Pelo contrário, no que se
refere à apresentação, apesar do que diz Granderath, a estrutura do
primeiro esquema tinha sido profundamente alterada e, inclusive, o
próprio conteúdo dos vários parágrafos (ver H. RONDET, Vatican I, pp.
112-114 e 181-183).
[2] MANSI, LI,
75-77.
[3] A passagem do
Prólogo incriminado foi ligeiramente suavizada pela Comissão e, dando
crédito a Russell, os bispos da minoria consideraram este resultado
como "uma grande vitória sobre o partido ultramontano" (BLAKISTON,
413)."
O discurso de 2 de junho, que seja
talvez o que se apresenta pelas fontes espúrias como "o famoso
discurso", foi uma oratio muito mais tranqüila e sem
interrupções importantes da parte dos Padres presentes. Eis aqui o que
escreve Aubert sobre as intervenções ocorridas nesse dia:
"Uns - como Hefele, Strossmayer ou
Maret - colocaram em relevo as dificuldades teológicas ou históricas
que suscitava a própria doutrina, insistindo, entre outras coisas,
sobre o perigo que existia, pela exaltação do magistério do Romano
Pontífice, de negar praticamente a participação real dos bispos no
poder supremo da Igreja".
- Päpste und Papstum,
Volume XXV, pp. 236-239, Stuttgart (1991), editado por Lajos Pásztor;
este volume traz o diário cotidiano do Concílio escrito por um de seus
membros, Vincenzo Tizzani, em italiano. É um tesouro, muito
interessante e muito bem escrito, com muito "tempero". Relata-se aí,
passo a passo, os discursos, as intervenções dos padres escandalizados,
os aplausos etc.
- Outras obras consultadas
não são aqui citadas porque nada dizem ou dizem substancialmente o
mesmo sobre o assunto. Porém, NENHUMA atribui a Strossmayer o suposto
"discurso".
3. Dicionários enciclopédicos
consultados
- Grande Dizionario
Enciclopedico UTET, Volume XIX, Turim (1991) p. 469. Ali se
diz, por exemplo (traduzimos do italiano; o que se encontra entre
parênteses é nosso):
"Seu modo de trabalhar (dialogando
com ortodoxos e protestantes) foi usado pelo apóstata José Agustín de
Escudero, que lhe atribuiu um discurso apócrifo, publicado em Florença
sob o título "Papa e Vangelo di un Vescovo al Concilio Vaticano"
(1870), traduzido e impresso muitas vezes em várias línguas...
Strossmayer aceitou mais tarde o dogma".
- Enciclopedia Cattolica,
Volume XI, Florença (1953) p. 1422. Ali se diz o seguinte sobre
Strossmayer (traduzimos do italiano):
"...foi um dos principais entre os
que se opunham à definição do dogma da infalibilidade, temendo que se
tornaria assim mais difícil o retorno dos irmãos separados à unidade:
porém, se submeteu e lealmente defendeu a doutrina da infalibilidade.
Em um opúsculo chamado "Papa e Vangelo di un Vescovo al Concilio
Vaticano" (Florença 1870) figurava um discurso seu, apócrifo, cujo
autor foi Juan Agustín de Escudero".
- Biographish-Bibliographishes
Kirchenlexicon, Volume XI (1996), coluna 111; ali se diz por
exemplo (traduzimos do alemão; grifo nosso):
"Mais tarde circulou um discurso que
teria sido pronunciado no Concílio, em 2 de junho de 1870, em
uma versão falsificada".
Fonte:veritatis
Autor:Juan Carlos
Marcadores:
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patristica,
santos
segunda-feira, junho 21, 2010
Batismo de crianças a palavra dos padres da igreja católica
fonte: veritatis splendor
autor : José Miguel Arráiz
SANTO HIPÓLITO DE ROMA
Desconhece-se a data e o lugar do seu nascimento, mesmo que se saiba
que foi discípulo de Santo Ireneu de Lião. Seu grande conhecimento da
filosofia e dos mistérios gregos, e sua própria psicologia, indicam que
procedia do Oriente. Até o ano 212 era presbítero em Roma, onde
Orígenes, durante sua viagem à capital do Império, o ouviu pronunciar
um sermão.
Por ocasião do problema da
readmissão na Igreja daqueles que tinham apostatado durante alguma
perseguição, estourou um grave conflito que o colocou em oposição ao
Papa Calisto, já que Hipólito se mostrava rigorista nesta matéria,
embora não negasse que a Igreja possuía o poder de perdoar os pecados.
Tão forte se tornou a questão, que se separou da Igreja e, eleito bispo
de Roma por um pequenino círculo de partidários, tornou-se o primeiro
Antipapa da História. O cisma se prolongou até depois da morte de
Calisto, durante os pontificados de seus sucessores Urbano e Ponciano.
Terminou em 235, pela perseguição de Maximino, que desterrou o Papa
legítimo (Ponciano) e a Hipólito às minas da Sardenha, onde se
reconciliaram. Ali os dois renunciaram ao pontificado para facilitar a
pacificação da comunidade romana, que desta forma pôde eleger um novo
Papa e dar por encerrado o cisma. Tanto Ponciano quanto Hipólito
morreram no ano 235.
Um testemunho de singular
importância temos também graças à “Tradição Apostólica”, a qual é uma
das mais antigas e importantes constituições eclesiásticas da
Antiguidade (foi escrita por volta do ano 215). Nela encontramos
instruções específicas acerca da administração do batismo, onde consta
a prática de batizar crianças e como em razão da fé dos pais poderiam
ser batizadas:
“Ao cantar o galo, se
começará a rezar sobre a água, seja a água que flui da fonte, seja a
que flui do alto. Assim se fará, salvo em caso de necessidade.
Portanto, se houver uma necessidade permanente e urgente, se empregará
a água que se encontrar. Se desnudarão e se batizarão primeiro as
crianças. Todas as que puderem falar por si mesmas, que falem; quanto
às que não puderem, falem por elas os seus pais ou alguém da sua
família. Se batizarão em seguida os homens e, finalmente, as mulheres
[...] O bispo ao impor-lhes as mãos, pronunciará a invocação: 'Senhor
Deus, que os fizeste dignos de obter a remissão dos pecados através do
banho da regeneração, fazei-os dignos de receber o Espírito Santo e
envia sobre eles a tua graça, para que te sirvam obedecendo a tua
vontade. A Ti a glória, Pai, Filho e Espírito Santo, na Santa Igreja,
agora e pelos séculos. Amém” (Tradição Apostólica 20,21).[7]
SÃO CIPRIANO DE CARTAGO
Bispo de Cartago, nascido por volta do ano 200, provavelmente em
Cartago, de família rica e culta. Dedicou-se em sua juventude à
retórica. O desgosto que sentia diante da imoralidade dos ambientes
pagãos em contraste com a pureza de costumes dos cristãos o induziu a
abraçar o Cristianismo por volta do ano 246. Pouco depois, em 248, foi
eleito bispo. Ao tornar-se mais forte a perseguição de Décio, em 250,
julgou melhor retirar-se para outro lugar, a fim de continuar se
ocupando com o seu rebanho.
Tem-se evidência de que durante
sua vida houve quem pretendesse atrasar o batismo das crianças para o
oitavo dia após o seu nascimento, à semelhança da circuncisão, tornando
necessário a Cipriano, em seu nome e de mais 66 bispos, enviar uma
carta a Fido testemunhando a fé da Igreja de que não se deve retardar o
batismo das crianças e que estas poderiam ser batizadas desde logo. A
carta integral encontra-se disponível na Internet, no volume 5 de “Ante
Nicene Fathers”, de Schaff (protestante) e ainda na “New Advent
Encyclopedia”[8].
Entre alguns pontos interessantes, temos:
“Porém, no tocante às
crianças, as quais dizes que não devem ser batizadas no segundo ou
terceiro dia após seu nascimento, e que a antiga lei da circuncisão
deve ser considerada, de modo que pensas que quem acaba de nascer não
deva ser batizado e santificado dentro dos oito [primeiros] dias, todos
nós pensamos de maneira bem diferente em nosso Concílio. Neste caminho
que pensavas seguir, ninguém concorda; ao contrário, julgamos que a
misericórdia e a graça de Deus não deve ser negada a ninguém nascido do
homem pois, como diz o Senhor no seu Evangelho, 'o Filho do homem não
veio para destruir a vida dos homens, mas para salvá-la'. À medida que
podemos, devemos procurar que, sendo possível, nenhuma alma seja
perdida [...] Por outro lado, a fé nas Escrituras divinas nos declara
que todos, sejam crianças ou adultos, têm a mesma igualdade nos divinos
dons [...] razão pela qual cremos que ninguém deve ser impedido de
obter a graça da lei, pela lei em que foi ordenado, e que a circuncisão
espiritual não deva ser obstaculizada pela circuncisão carnal, mas que
todos os homens devem ser absolutamente admitidos à graça de Cristo, já
que também Pedro, nos Atos dos Apóstolos, fala e diz: 'O Senhor me
disse que eu não deveria chamar a ninguém de ordinário ou imundo'.
Entretanto, se nada poderia obstaculizar a obtenção da graça pelos
homens ao mais atroz dos pecados, não se pode colocar obstáculos aos
que são maiores. Porém, se se crê que até aos piores pecadores e aos
que pecaram contra Deus lhes é concedida a remissão dos pecados, não
sendo nenhum deles impedido do batismo e da graça, quanto mais não
deveríamos obstaculizar um bebê que, sendo recém-nascido, não pecou
ainda [pessoalmente], mas por ter nascido da carne de Adão, contraiu o
contágio da morte antiga em seu nascimento [...] Logo, querido irmão,
esta foi a nossa opinião no Concílio: que, por nós, ninguém deve ser
impedido de receber o batismo e a graça de Deus, que é misericordioso,
amável e carinhoso para com todos; e que, visto que é observado e
mantido em relação a todos, parece-nos que seja ainda mais no caso dos
lactantes [...]” (Carta 58, a Fido, sobre o Batismo das Crianças).[9]
É importante observar aqui que o que Fido e talvez outros presbíteros
pretendiam fazer não era negar o batismo às crianças – tal como faz
hoje uma grande parcela do Protestantismo – mas tão somente retardá-lo
para logo depois do oitavo dia do nascimento.
GREGÓRIO DE NANZIANZO
Arcebispo de Constantinopla e
doutor da Igreja, nascido em Nanzianzo, na Capadócia, no ano 329 e
falecido em 389. Célebre por sua eloquência e sua luta contra o
Arianismo, juntamente com outros Padres como São Basílio e São Gregório
de Nissa. É reconhecido como um dos quatro grandes doutores da Igreja
Grega.
Escreveu um belo sermão sobre o
batismo onde testemunha a fé da Igreja Primitiva no sentido de que, se
para o adulto é necessária a fé para se receber o sacramento, não é
assim para a criança (que o recebe em razão da fé dos pais). Com
efeito, não há desculpa alguma para se retardar o batismo, nem sequer
no caso das crianças:
“Façamo-nos batizar para
vencer. Tomemos nossa parte nessas águas mais purificadoras que o
hissopo; mais puras que o sangue das vítimas impostas pela Lei; mais
sagradas que as cinzas do bezerro, cuja aspersão podia ser suficiente
para dar às faltas comuns uma provisória purificação corporal, mas não
uma total remissão do pecado. Teria sido necessário, sem isso, renovar
a purificação daqueles que já a tinham recebido uma vez? Façamo-nos
batizar hoje, para não estarmos obrigados a fazê-lo amanhã. Não
retardemos o benefício como se nos surgisse algum problema. Não
esperemos ter pecado mais para, mediante ele (=o batismo), sermos
perdoados em maior medida; isso seria fazer uma indigna especulação
comercial acerca de Cristo. Tomar uma carga superior a que podemos
carregar é correr o risco de perder, em um naufrágio, o navio, o corpo
e os bens, os seja, todo o fruto da graça que não se soube aproveitar
[...] Inclusive as crianças: não deixeis tempo para a malícia
apoderar-se delas; santificai-as enquanto são inocentes; consagrai-as
ao Espírito enquanto ainda não lhe saíram os dentes. Que pusilanimidade
e que falta de fé daquelas mães que temem o caráter batismal pela
fragilidade da sua natureza! Antes de o ter trazido ao mundo, Ana
dedicou Samuel a Deus e, imediatamente após o seu nascimento, o
consagrou; a partir de então, o carregava vestido com um hábito
sacerdotal sem temor algum dos homens, em razão da sua confiança em
Deus. Não há necessidade, então, de amuletos ou encantamentos, meios de
que se serve o maligno para insinuar-se nos espíritos pequenos em
demasia e transformar em seu benefício o temor religioso em prejuízo a
Deus. Opõe a ele a Trindade, imensa e formosa talismã” (Sermão
40,11.17, sobre o Santo Batismo).[10]
Como opinião pessoal, recomenda que, se não estiverem em perigo do
morte, aguarde-se os três anos de idade para que possam recitar
superficialmente os mistérios da fé, assinalando que a razão não é
requisito para o recebimento do sacramento:
“Tudo isto é dito para
aqueles que pedem o batismo por si mesmos; mas o que podemos dizer das
crianças, ainda de pouca idade, que são incapazes de perceber o perigo
em que se encontram e a graça do sacramento? Certamente, no caso de
perigo imediato, é melhor batizá-las sem o seu consentimento do que
deixá-las morrer sem ter recebido o selo da iniciação. Somos obrigados
a dizer o mesmo acerca da prática da circuncisão, que era realizada no
oitavo dia prefigurando o batismo, também realizada nos meninos
desprovidos de razão. Da mesma forma, realizava-se a unção dos umbrais
da porta que, embora se tratasse de coisas inanimadas, protegia os
primogênitos. E quanto às demais crianças? Eis aqui a minha opinião:
esperai que alcancem a idade de três anos, de modo que sejam capazes de
compreender e expressar superficialmente os mistérios; apesar da
imperfeição da sua inteligência, recebem o sinal, e o seu corpo e a sua
alma se encontram santificados pelo grande sacramento da iniciação.
Elas renderão conta dos seus atos no momento preciso em que, com plena
posse da razão, chegarem ao pleno conhecimento do Mistério, já que não
serão responsáveis das faltas que, pela ignorância da idade, tiverem
cometido. Ademais, de todos os modos, lhes resulta vantajoso possuir a
muralha do batismo para se proteger dos perigosos ataques que caem
sobre nós e ultrapassam as nossas forças [...] Porém, alguém dirá:
'Cristo, que é Deus, se fez batizar aos trinta anos e tu nos empurras
desde logo o batismo'. Afirmar assim a sua divindade é o que responde a
essa objeção. Ele – a própria pureza – não precisava de purificação,
mas se fez purificar por vós, assim como por vós se fez carne, uma vez
que Deus não tem corpo. Além disso, Ele não corria nenhum perigo por
retardar o seu batismo, pois podia livremente regular o seu sofrimento
assim como regulou o seu nascimento. Para vós, ao contrário, não seria
pequeno o perigo no caso de deixardes este mundo sem terdes recebido,
no vosso nascimento, nada além que uma vida perecível, sem estardes
revestidos da incorruptibilidade” (Sermão 40,26-27).[11]
SÃO JOÃO CRISÓSTOMO
Patriarca de Constantinopla e doutor da Igreja, nascido em Antioquia,
na Síria, em 347, é considerado um dos quatro grandes Padres da Igreja
Oriental. Na Igreja Ortodoxa grega é reconhecido como um dos maiores
teólogos e um dos três Pilares da Igreja, juntamente com São Basílio e
São Gregório:
“Deus seja louvado! Ele, que
produz tais maravilhas! Vês quão múltipla é a graça do batismo? Alguns
enxergam nele apenas a remissão dos pecados, mas nós podemos delinear
dez dons de honra. Por isso batizamos também as crianças de pouca
idade, quando ainda não começaram a pecar, para que recebam a
santidade, a justiça, a filiação, a herança, a fraternidade de Cristo,
para que se convertam em membros e morada do Espírito Santo” (Sermão
aos Neófitos).[12]
SÃO BASÍLIO MAGNO
Preeminente bispo da Cesaréia e doutor da Igreja, nascido no ano 330 e
falecido em 379. É reconhecido como um dos quatro grandes Padres da
Igreja Oriental, juntamente com Santo Atanásio, São Gregório de
Nanzianzo e São João Crisóstomo:
“Há um tempo conveniente para
cada coisa: um tempo para o sono e outro para a vigília; um tempo para
a guerra e um tempo para a paz. No entanto, o tempo do batimo absorve
toda a vida do homem. Se não é possível ao corpo viver sem respirar,
muito menos será para a alma sobreviver sem conhecer o seu Criador. A
ignorância de Deus é a morte da alma. Aquele que não foi batizado
tampouco foi iluminado. Assim como sem a luz a vista não pode perceber
aquilo que lhe interessa, do mesmo modo, a alma não pode contemplar a
Deus. Ademais, todo tempo é favorável para conseguir a salvação por
intermédio do batismo, trate-se de noite ou de dia, de uma hora ou de
espaço menor de tempo, por mais breve que seja. Seguramente, a data que
se aproxima é, em maior medida, a mais apropriada. Que época poderia
ser, de fato, mais adequada para o batismo que o dia da Páscoa? Pois
esse dia comemora a ressurreição e o batismo é uma fonte de energia
para obter a ressurreição. Por essa razão, a Igreja convoca, há muito
tempo, seus filhos de peito, em uma sublime proclamação, a fim de que
aqueles a quem ela deu à luz na dor, colocando-os no mundo depois de
tê-los alimentado com o leite do ensino da catequese, se nutram do
alimento sólido dos seus dogmas” (Protríptico do Santo Batismo 1).[13]
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sexta-feira, maio 07, 2010
A "Sola Fides", a Igreja primitiva e os Padres da Igreja
Os Padres da Igreja acreditavam na
doutrina da Sola Fides?" Durante a época em que eu flertava com o
Protestantismo, nunca reparei nesta questão. Cheguei até a rejeitar
esta doutrina por considerá-la sem qualquer sustentação escriturística;
no entanto, hoje em dia, posso responder claramente a esta questão,
pois ainda que para um fundamentalista possa parecer irrelevante, há
razões escriturísticas para que eu pense em sentido contrário.
Isto porque, se esta doutrina foi uma novidade do século XVI, não
deveria ter sido levada a sério. Eu, como católico, aceito o que se
deva considerar "legítimos desenvolvimentos da doutrina cristã"; porém,
quem teve tempo de estudar a história e os textos patrísticos chegará a
uma simples conclusão: a doutrina da "salvação apenas pela fé" (=Sola
Fides) não apenas não era professada antes de Lutero, como também era
explicitamente anatematizada e rejeitada.
Como poderia ser então uma
doutrina verdadeira? Significaria isto que a Igreja foi cega durante 15
séculos? Para um protestante, isto pode ser fácil de aceitar; eu,
porém, simplesmente não posso crer. A maioria dos fundamentalistas
sustenta que a Igreja se "paganizou" até a raiz quando o imperador
Constantino Magno converteu-se ao Cristianismo e decretou a liberdade
de culto através do Edito de Milão. Contudo, essa doutrina já fora
rejeitada como herética séculos antes de Constantino.
A seguir, pretendo fazer uma
recompilação de textos patrísticos dos Padres da Igreja e dos
escritores eclesiásticos mais preeminentes, começando a partir dos
discípulos diretos dos Apóstolos. A partir deles demonstraremos que o
consenso dos Padres da Igreja professava que:
Este artigo pretende ser apenas um
breve resumo da doutrina católica referente à justificação. A quem
desejar estudar a fundo a doutrina católica acerca destes pontos,
sugiro a leitura dos decretos de Trento e o livro "O Mérito", do
cardeal Charles Journet.
A DIDAQUÉ
Considerado um dos mais antigos
escritos cristãos não-canônicos, incluído na categoria dos "Padres
Apostólicos" e tido por bem anterior a muitos escritos do Novo
Testamento. Apenas recentemente alguns estudiosos lhe assinalaram uma
possível data de composição não superior ao ano 160 d.C. [...]
Já neste primitivo testemunho da
fé da Igreja, adverte-se que de nada serve ter fé durante toda a vida
se, no último momento, não formos perfeitos:
"Vigiai sobre a vossa vida;
não deixai que vossas lâmpadas se apaguem, nem afrouxai vossos cintos.
Ao contrário, estai preparados porque não sabeis a hora em que virá o
Senhor. Reuni-vos frequentemente, procurando o que convém a vossas
almas; porque de nada vos servirá todo o tempo da vossa fé se não fores
perfeitos no último momento" (Didaqué 16,1-2).[1]
SÃO CLEMENTE DE ROMA
São Clemente, discípulo dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, é
reconhecido como um dos Padres Apostólicos e 4º bispo de Roma (logo
após São Pedro, São Lino e São Anacleto). Conserva-se uma carta em que
disciplina a comunidade dos coríntios em razão de uma disputa surgida
nessa igreja. [...]
Clemente tem sido frequentemente
citado por apologistas protestantes como partidário da doutrina da
"Sola Fides", em razão do seguinte texto:
"Em conclusão, todos foram
glorificados e engrandecidos, não por méritos próprios, nem por suas
obras ou justiças que praticaram, mas pela vontade de Deus. Logo,
tampouco nós - que fomos chamados em Jesus Cristo por sua vontade - nos
justificamos por nossos próprios méritos, nem por nossa sabedoria,
inteligência, piedade ou pelas obras que fazemos em santidade de
coração, mas pela fé, pela qual o Deus onipotente justificou a todos
desde o princípio" (1ª Carta aos Coríntios 32,3-4).[2]
Porém, Clemente realmente diz o mesmo que estabele o Concílio de Trento
quando declara que: "Nada do que precede a justificação - seja fé, seja
obras - merece a graça da justificação, porque se é pela graça, não o é
pelas obras. Senão, como diz o Apóstolo, a graça já não é mais graça"
(Concílio de Trento, Sessão VI, Decreto sobre a Justificação 8). Trento
ensina assim que não há nada anterior à justificação, incluindo as
obras (de qualquer espécie) que mereça a justificação.
No entanto, em outros textos,
Clemente fala como os profetas foram declarados justos não somente ao
crer, mas também ao obedecer:
"Unamo-nos, pois, àqueles a
quem foi dada a graça da parte de Deus; revistamo-nos da concórdia,
mantendo-nos no espírito de humildade e continência, justificados por
nossas obras e não por nossas palavras" (1ª Carta aos Coríntios
30,3).[3]
"Tomemos por exemplo a Henoc, o
qual, encontrado justo na obediência, foi trasladado, sem que se
encontrasse o rastro de sua morte" (1ª Carta aos Coríntios 9,3).[4]
"Abraão, que foi chamado 'amigo
de Deus', foi achado fiel por ter sido obediente às palavras do Deus"
(1ª Carta aos Coríntios 9,1).[5]
Clemente é um excelente
expositor da doutrina católica da justificação. O homem se justifica
pela fé, porém se salva sob a condição de que guarde os mandamentos e
cumpra de modo efetivo a vontade de Deus (as obras não são apenas
produto da fé, mas condição para se salvar):
"De nossa parte, lutemos
para nos encontrar no número dos que O esperam, a fim de sermos também
partícipes dos dons prometidos. Mas como conseguir isto, caríssimos?
Conseguiremos desde que a nossa mente esteja fielmente afiançada em
Deus; desde que busquemos aquilo que é agradável e aceito por Ele;
desde que, finalmente, cumpramos efetivamente aquilo que condiz com
seus desígnios irreprováveis e sigamos o caminho da verdade, atirando
para longe de nós toda injustiça e maldade, avareza, contendas, malícia
e fraude, fofocas e calúnias, ódio a Deus, soberba e jactância,
vanglória e inospitalidade. Porque os que praticam tais coisas são
odiosos a Deus; e não somente os que as praticam, como ainda os que as
aprovam e consentem. Diz, com efeito, a Escritura: 'Ao pecador, porém,
disse Deus: Com que fim explicas os meus mandamentos e pronuncias por
tua boca a minha aliança? Detestaste tu a disciplina e lançaste para
trás as minhas palavras'" (1ª Carta aos Coríntios 35,4-8).[6]
Clemente também adverte sobre o
perigo de se perder a salvação; por isso avisa que, para se salvar,
devemos perseverar até o fim, vivendo uma conduta digna de Deus e
obedecendo aos mandamentos:
"Vigiai, caríssimos, para que
os vossos benefícios, que são muitos, não se convertam para nós motivo
de condenação, caso não haja plena concórdia, vivendo conduta digna
d'Ele, o que é bom e agradável em sua presença. Diz-se, com efeito, em
alguma parte da Escritura: 'O Espírito do Senhor é lâmpada que ilumina
os esconderijos do ventre'. Consideremos quão próximo de nós Ele está e
como d'Ele não se oculta nem um só de nossos pensamentos ou o propósito
que concebemos. Justo é, portanto, que não desertemos do posto que Ele,
por sua vontade, nos atribuiu" (1ª Carta aos Coríntios 21,1-4).[7]
Observe-se que, no texto acima,
Clemente reconhece que alguém pode cair do estado de graça e se
condenar, diferentemente da doutrina protestante "Uma vez salvo, sempre
salvo".
"Agora, pois, como seja certo
que tudo é por Ele visto e ouvido, temamos e abandonemos os execráveis
desejos de más obras, a fim de sermos protegidos por sua misericórdia
nos juízos vindouros. Porque 'para onde algum de nós poderá fugir de
sua poderosa mão?' Que mundo acolherá os desertores de Deus?" (1ª Carta
aos Coríntios 28,1-2).[8]
"Porque Deus vive e vivem o
Senhor Jesus Cristo e o Espírito Santo; e [vivas] também são a fé e a
esperança dos eleitos no sentido de que aqueles que praticam na
humildade, com modéstia perseverante e sem hesitação, os preceitos e
mandamentos de Deus, somente esses serão escolhidos e contados no
número dos que se salvam mediante Jesus Cristo" (1ª Carta aos Coríntios
58,2).[9]
Também oferece uma exposição clara da doutrina católica do mérito:
"Portanto, é bom que estejamos
prontos e preparados para as boas obras, já que é d'Ele que tudo
deriva. Assim Ele nos previne: 'Eis o Senhor! Tua recompensa está
diante d'Ele, para que dê a cada um segundo o seu trabalho'. Contudo, o
que nos pede? Que creiamos n'Ele com todo o nosso coração, para que não
sejamos preguiçosos nem indolentes para com nenhuma boa obra" (1ª Carta
aos Coríntios 34,2-4).[10]
Entretanto, como se isto já não fosse pouco, reconhece que por meio da caridade é possível obter o perdão dos pecados:
"Somos felizes, caríssimos, se
tivermos cumprido os mandamentos de Deus na concórdia da caridade, a
fim de que, pela caridade, sejam perdoados os nossos pecados" (1ª Carta
aos Coríntios 50,5).[11]
SÃO POLICARPO DE ESMIRNA
Bispo de Esmirna, instituído pelo Apóstolo São João, de quem foi
discípulo. Nasceu por volta do ano 75 e foi martirizado. É considerado
também um dos Padres Apostólicos. Conserva-se uma carta dirigida à
igreja de Filipos [...], na qual, igualmente, estabelece como condição
para se salvar não apenas a fé mas ainda o cabal cumprimento da vontade
de Deus e a obediência aos mandamentos:
"Por isso, cingi vossos rins
e servi a Deus no temor e na verdade, abandonando as palavras vãs e o
erro das multidões, crendo n'Aquele que ressuscitou nosso Senhor Jesus
Cristo dentre os mortos e lhe deu glória e assento à sua direita. A Ele
foram submetidas todas as coisas, as do céu e as da terra. A Ele rendei
adoração com todo alento. Ele há de vir como juiz dos vivos e dos
mortos e Deus pedirá contas daqueles que não querem obedecê-lo. Pois
bem: Ele que O ressuscitou dentre os mortos também nos ressuscitará,
desde que cumpramos sua vontade, caminhemos em seus mandamentos e
amemos o que Ele amou, distantes de toda iniquidade, defraudação, apego
ao dinheiro, maledicência, falso testemunho; não retribuindo mal por
mal, nem injúria por injúria, nem golpe por golpe, nem maldição por
maldição. Prestemos atenção ao que disse o Senhor para o nosso
aprendizado: 'Não julgueis para que não sejais julgados; perdoai e vos
será perdoado; compadecei para que sejais compadecidos. Com a medida
que medirdes, sereis também vós medidos'. E: 'Bem-aventurados os pobres
e os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o
reino dos céus'" (Carta aos Filipenses 2)[12]
O PASTOR DE HERMAS
Uma obra muito apreciada pela Igreja primitiva, ao ponto de alguns
Padres chegarem a considerá-la canônica. Foi composta por Hermas, irmão
do Papa Pio I, em Roma, entre os anos 141 e 155. [...]
Hermas diz que teve uma visão onde via uma torre sendo construída sobre
as águas e para onde se levavam pedras para edificá-la. Chama a atenção
o fato de que nem todas as pedras são usadas: algumas eram lançadas
para longe da torre; outras estavam rachadas; outras, eram deixadas
próximas da torre (mas não eram usadas por estarem com defeito);
outras, por suas formas não se ajustarem à construção, eram
descartadas. Posteriormente, a Mulher explica que a Torre é a Igreja e
que nós somos as pedras:
"- As [pedras] que entravam
na construção sem necessidade de labrá-las são [aqueles] que o Senhor
aprovou, porque caminharam na retidão do Senhor e cumpriram seus
mandamentos" (3ª Visão 5,3).[13]
"- E as que eram rejeitadas e lançadas fora? Quem são?
- Estas são [aqueles] que pecaram, mas estão dispostos a fazer penitência. Em razão disto, não foram lançadas para muito longe da torre, pois quando fizerem penitência serão úteis para a contrução" (3ª Visão 5,4).[14]
- Estas são [aqueles] que pecaram, mas estão dispostos a fazer penitência. Em razão disto, não foram lançadas para muito longe da torre, pois quando fizerem penitência serão úteis para a contrução" (3ª Visão 5,4).[14]
"- Quereis conhecer as pedras que
foram despedaçadas e lançadas para bem longe da torre? Estas são os
filhos da iniquidade; tornam-se crentes hipocritamente e nenhuma
maldade se afastou deles. Portanto, não têm salvação, pois por suas
maldades não são úteis para a construção" (3ª Visão 6,1).[15]
"- A respeito das outras pedras,
que viste em grande quantidade no solo e não eram usadas na construção,
as pedras defeituosas, representam aqueles que conheceram a verdade,
mas não perseveraram nela nem aderiram aos santos. Por isso, são
inúteis.
- E as pedras rachadas? Quem representam?
- Estas [representam] aqueles que guardam ressentimentos em seus corações, uns para com os outros, e não mantêm a paz mútua... As pedras mutiladas representam aqueles que creram e mantêm a maior parte de seus atos conforme a justiça, porém possuem ainda algumas porções de iniquidade. Por isso estão mutiladas e não inteiras" (3ª Visão 6,2-4).[16]
- E as pedras rachadas? Quem representam?
- Estas [representam] aqueles que guardam ressentimentos em seus corações, uns para com os outros, e não mantêm a paz mútua... As pedras mutiladas representam aqueles que creram e mantêm a maior parte de seus atos conforme a justiça, porém possuem ainda algumas porções de iniquidade. Por isso estão mutiladas e não inteiras" (3ª Visão 6,2-4).[16]
"- Quanto às outras pedras, que
viste atiradas longe [da torre], caindo no caminho e rolando para
lugares intransitáveis, estas representam os que creram, mas que logo
depois, arrastados por suas dúvidas, abandonaram o Seu caminho, que é o
verdadeiro. Imaginando-se, pois, que são capazes de encontrar um
caminho melhor, se extraviaram e, miseravelmente, passaram a transitar
por caminhos intransitáveis" (3ª Visão 7,1).[17]
Aponta, assim, que não basta
crer, mas também perseverar e cumprir os mandamentos, do contrário virá
a representar uma dessas pedras defeituosas atiradas para longe da
torre.
Mais adiante, quando o autor de "O
Pastor" pergunta à Mulher se ele mesmo iria se salvar, esta lhe
responde afirmativamente, mas desde que guarde os mandamentos e
persevere neles:
"- Ele disse: 'Estou
encarregado da penitência e a todos os que se arrependem eu lhes
concedo inteligência'. E disse-me: 'Ou não te parece que o
arrependimento é uma espécie de inteligência?'. Prosseguiu: 'Sim, o
arrependimento é uma grande inteligência, porque o pecador que faz
penitência cai em conta que praticou o mal diante do Senhor e sobe ao
seu coração o remorso pela obra que realizou, arrependendo-se e não
mais voltando a fazer o mal, entregando-se, ao contrário, à prática do
bem de múltiplas maneiras, e humilha e atormenta sua alma por ter
pecado. Vês, assim, como a penitência é uma espécie de grande
inteligência'.
- Disse-lhe: 'Pois é justamente por isso que quero lhe perguntar tudo detalhadamente; primeiro, porque sou pecador e quero saber quais obras devo praticar para viver, pois meus pecados são muitos em quantidade e de muitas variadas formas'.
- Respondeu-me: 'Viverás se guardares os meus mandamentos e caminhares neles. E quem quer que observe estes mandamentos, viverá para Deus'" (4ª Mandamento 2,2-4).[18]
- Disse-lhe: 'Pois é justamente por isso que quero lhe perguntar tudo detalhadamente; primeiro, porque sou pecador e quero saber quais obras devo praticar para viver, pois meus pecados são muitos em quantidade e de muitas variadas formas'.
- Respondeu-me: 'Viverás se guardares os meus mandamentos e caminhares neles. E quem quer que observe estes mandamentos, viverá para Deus'" (4ª Mandamento 2,2-4).[18]
SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA
Bispo de Antioquia, martirizado em Roma (devorado por leões) nos tempos
do imperador Trajano (98-117). Dele são conservadas 7 cartas que
escreveu a caminho do martírio, por volta do ano 107. [...]
Para Santo Inácio, não basta
proclamar a fé, mas perseverar nela até o fim. Por isso, a fé e a
caridade devem estar em unidade. O prêmio do atleta de Deus é a vida
eterna, onde receberá a recompensa por suas boas obras. Também
estabelece que a salvação está à disposição do homem que, por seu
livre-arbítrio, elege a vida ou a morte; porém, se não estiver
disposto, inclusive, a morrer por Cristo, não terá a vida eterna:
"Nada de tudo isso seja
ocultado de vós, por terdes em grau pleno para com Jesus Cristo aquela
fé e caridade que são princípio e fim da vida. O princípio, quero
dizer, a fé; o fim, a caridade. As duas, trabalhadas em unidade, são de
Deus e tudo o mais que liga à perfeição e santidade deriva delas.
Ninguém que proclama a fé peca; e ninguém que possui a caridade odeia.
A árvore se manifesta por seus frutos. Da mesma forma, os que professam
ser de Cristo, por suas obras se conhecerão, pois agora não é hora de
proclamar a fé, mas de se manter em sua força até o fim" (Carta aos
Efésios 14,1-2).[19]
"Sede sóbrio, como um atleta de
Deus. O prêmio é a incorrupção e a vida eterna, da qual também tu estás
convencido. Em tudo e por tudo, sou um resgate para ti, eu e minhas
correntes, que tu amaste" (Carta a Policarpo 2,3).[20]
"Atendei ao bispo a fim de que
Deus vos atenda. Eu me ofereço como resgate por aqueles que se sujeitam
ao bispo, aos anciãos e aos diáconos. E oxalá que com eles me fosse
concedido ter parte em Deus. Trabalhai juntos, uns com os outros; lutai
unidos como administradores de Deus, como seus assistentes e
servidores. Tratai de ser gratos ao Capitão sob cujas bandeiras
militais e de quem haverás de receber o soldo. Que nenhum de vós seja
declarado desertor. Vosso batismo deve permanecer como vossa armadura,
a fé como um elmo, a caridade como uma lança, a paciência como um
arsenal de todas as armas. Vosso tesouro será vossas boas obras, das
quais recebereis magníficas somas" (Carta a Policarpo 6,1-2).[21]
"Pois bem: as coisas estão
atingindo o seu fim e nos são propostas juntamente estas duas coisas: a
morte e a vida; e cada um irá para o seu lugar específico. É como se se
tratasse de duas moedas: uma de Deus e outra do mundo; e cada uma traz
inscrita o seu próprio cunho: os incrédulos, o deste mundo; mas os
fiéis, pela caridade, o cunho de Deus Pai inscrito por Jesus Cristo. Se
não estamos dispostos a morrer por Ele, para imitar sua Paixão, não
teremos sua vida em nós" (Carta aos Magnésios 5,1-2).[22]
SÃO JUSTINO MÁRTIR
Mártir da fé cristã por volta do ano 165 (por decapitação). É considerado o maior apologista do século II.
São Justino faz referência à
salvação do homem não apenas com base na fé, mas pelo seu caminhar na
virtude e no mérito de suas ações:
"Nós somos os vossos
melhores auxiliares e aliados para a manutenção da paz, pois
professamos doutrinas como a de que não é possível que se oculte de
Deus um malfeitor, um ávaro, um conspirador, como tampouco um homem
virtuoso, e que cada um caminha, segundo o mérito de suas ações, para o
castigo ou para a salvação eterna. Porque se todos os homens
conhecessem isto, ninguém escolheria a maldade por um só momento,
sabendo que caminhava para a sua condenação eterna no fogo, mas por
todos os meios se conteria e se adornaria na virtude, a fim de alcançar
os bens de Deus e ver-se livre dos castigos" (1ª Apologia 12,1-2).[23]
"Pois bem: foi ensinado a nós que
somente alcançarão a imortalidade aqueles que vivem em santa e virtuosa
proximidade de Deus. Da mesma forma, cremos que serão castigados com o
fogo eterno aqueles que vivem injustamente e não se converterem" (1ª
Apologia 21,6).[24]
"Mas aqueles em que se vê que não
vivem como Ele ensinou, sejam declarados como não-cristãos, por mais
que repitam com a língua os ensinamentos de Cristo, pois Ele disse que
devem se salvar não aqueles que apenas falam, mas também que praticam
as [boas] obras. E efetivamente assim disse: 'Nem todo aquele que me
diz: 'Senhor, Senhor' entrará no reino dos céus, mas o que faz a
vontade de meu Pai que está nos céus'" (1ª Apologia 16,8).[25]
Possui também uma clara
perspectiva do livre-arbítrio e com quase 1400 anos de antecedência,
rejeita a posição calvinista de que o homem é um fantoche virtual que
não pode resistir à graça (de onde se conclui que a condenação de
alguém ocorre porque Deus nunca derramou a graça sobre ele, tendo sido
abandonado à sua maldade):
"Do que dissemos
anteriormente, ninguém deve concluir que a consequência do que
afirmamos que se sucede ocorre por necessidade do destino, pelo fato de
que dizemos ser de antemão conhecidos os acontecimentos. Para isso,
vamos esclarecer também esta dificuldade. Nós aprendemos com os
profetas e afirmamos que isto é a verdade: que os castigos e tormentos,
igualmente as boas recompensas, dão-se a cada um conforme as suas
obras, pois se não fosse assim e se ocorresse pelo destino, não
existiria em absoluto o livre-arbítrio. Com efeito, se está determinado
que este seja bom e aquele mau, nem aquele merece louvor, nem este
vitupério. E se o gênero humano não tem poder para fugir por livre
determinação daquilo que é vergonhoso e optar pelo belo, é
irresponsável por qualquer ação que faça. Porém, que o homem é virtuoso
e peca por livre escolha, o demonstramos pelo seguinte argumento: vemos
que o próprio sujeito passa de um extremo a outro. Pois bem: se fosse
determinado ser mau ou bom, não seria capaz de fazer coisas contrárias
nem mudaria [seu comportamento] com tanta frequência. Na verdade, não
se poderia dizer que alguns são bons e outros maus a partir do momento
em que afirmamos que o destino é a causa de bons e maus, e que faz
coisas contrárias a si mesmo; ou deve se ter por verdade aquilo que já
anteriormente insinuamos, a saber: que virtude e maldade são meras
palavras e que apenas por opinião [pessoal] se classifica algo como bom
ou mau - o que, como demonstra a verdadeira razão, é o cúmulo da
impiedade e da iniquidade. O que afirmamos ser destino ineludível é que
a quem escolher o bem, espera-lhes digna recompensa; e a quem escolher
o contrário, espera-lhes igualmente digno castigo. Porque Deus não fez
o homem da mesma forma que as outras criaturas, por exemplo, árvores e
quadrúpedes, que nada podem fazer por livre determinação, pois nesse
caso não seria digno de recompensa ou louvor, nem mesmo por ter
escolhido o bem, mas já teria nascido bom; nem, por ter sido mau, seria
castigado justamente, pois não agiu livremente, mas por não poder ter
sido outra coisa do que foi" (1ª Apologia 43,1-8).[26]
SÃO TEÓFILO DE ANTIOQUIA
Sexto bispo de Antioquia, segundo Eusébio de Cesaréia e São Jerônimo.
Conservaram-se apenas 3 livros escritos aproximadamente pelo ano de 180
d.A. (A Autólico). Em seu primeiro livro, fala de como seremos julgados
em conformidade com as nossas obras e de como os que perseveram nas
boas obras obtêm a vida eterna:
"E se queres, lê também com
interesse as Escrituras dos profetas e elas te guiarão com mais clareza
para escapar dos castigos eternos e alcançar os bens eternos de Deus.
Porque Ele, que nos deu a boca para falar, nos formou o ouvido para
ouvir e nos deu os olhos para ver, examinará tudo e julgará conforme a
justiça, dando a cada um conforme os seus méritos. Aos que, conforme a
paciência, buscam a incorrupção pelas boas obras, lhes dará a graça da
vida eterna, de alegria, paz, descanso e multidão de bens..." (1º Livro
a Autólico 14).[27]
SANTO IRENEU DE LIÃO
Santo Ireneu, bispo e mártir. Foi discípulo de São Policarpo que, por
sua vez, foi discípulo do Apóstolo São João. Célebre por seu tratado
"Contra as Heresias", onde combate as heresias de seu tempo, em
especial as dos gnósticos. Nasceu por volta do ano 130 d.C. e morreu no
ano 202 d.C.
Para Ireneu, a graça também é
resistível porque Deus fez o homem livre e como Deus derrama sua graça
sobre todos os homens, quem se condena o faz por própria escolha;
igualmente, o que se salva é porque persevera nas boas obras:
"Esta frase: 'Quantas vezes
quis acolher os teus filhos, porém tu não quiseste!' (Mateus 23,37),
bem descobriu a antiga lei da liberdade humana, pois Deus fez o homem
livre, o qual, assim como desde o princípio teve alma, também gozou de
liberdade, a fim de que livremente pudesse acolher a Palavra de Deus,
sem que Este o forçasse. Deus, com efeito, jamais se impõe à força,
pois n'Ele sempre está presente o bom conselho. Por isso, concede o bom
conselho a todos. Tanto aos seres humanos como aos anjos outorgou o
poder de escolher - pois também os anjos usam sua razão -, a fim de que
àqueles que lhe obedecem possam conservar para sempre este bem como um
dom de Deus que eles guardam. Ao contrário, não se encontrará este bem
naqueles que O desobedecem e por isso receberão o justo castigo, porque
Deus certamente lhes ofereceu benignamente este bem, mas eles não se
preocuparam em conservá-lo, nem o acharam valioso, mas desprezaram a
bondade suprema. Assim, portanto, ao abandonar este bem e até certo
ponto rejeitá-lo, como razão serão réus do justo juízo de Deus, do qual
o Apóstolo Paulo dá testemunho em sua Carta aos Romanos: 'Por acaso
desprezas as riquezas de sua bondade, paciência e generosidade,
ignorando que a bondade de Deus te impulsiona a arrepender-te? Pela
dureza e impenitência do teu coração, tu mesmo acumulas a ira para o
Dia da Cólera, quando se revelará o justo juízo de Deus' (Romanos
2,4-5). Ao contrário, diz: 'Glória e honra para quem opera o bem'
(Romanos 2,10). Deus, portanto, nos deu o bem, do qual dá testemunho o
Apóstolo na mencionada Carta, e aqueles que agem segundo este dom
receberão honra e glória, porque fizeram o bem quando estava em seu
arbítrio o não fazê-lo; ao contrário, aqueles que não agirem bem serão
réus do justo juízo de Deus, porque não agiram bem estando em seu poder
fazê-lo. Com efeito, se alguns seres humanos fossem maus por natureza e
outros bons por natureza, nem estes seriam dignos de louvor por serem
bons, nem aqueles condenáveis, porque assim teriam sido criados. Porém,
como todos são da mesma natureza, capazes de conservar e fazer o bem, e
também capazes de perdê-lo e não fazê-lo, com justiça os seres sensatos
- quanto mais Deus! - louvam os segundos e dão testemunho de que
decidiram de maneira justa e perseveraram no bem; ao contrário,
reprovam os primeiros e os condenam retamente por terem rejeitado o bem
e a justiça. Por esse motivo, os profetas exortavam a todos a agir com
justiça e a fazer o bem, como muitas vezes explicamos, porque este modo
de nos comportar está em nossas mãos; porém, tendo tantas vezes caído
no esquecimento por nossa grande negligência, nos fazia falta um bom
conselho. Por isso o bom Deus nos aconselhava o bem por meio dos
profetas" (Contra as Heresias 4,37,1-2).[28]
Enfatiza ainda que a salvação se obtém mediante muito esforço e "lutando":
"Por isso o Senhor diz que o
reino dos céus é dos violentos: 'Os violentos o arrebatam', isto é,
aqueles que se esforçam, lutam e estão continuamente em alerta: estes o
arrebatam. Por isso o Apóstolo Paulo escreveu aos Coríntios: 'Não
sabeis que no estádio são muitos os que correm, porém apenas um recebe
o prêmio? Correi de modo que o alcanceis. Todo aquele que compete se
priva de tudo e isso para receber uma coroa corruptível; nós, ao
contrário, por uma incorruptível. Eu corro desta maneira e não por
acaso; eu não luto como quem desfere [socos] no ar, mas mortifico o meu
corpo e o submeto ao serviço, para que não ocorra que, pregando aos
outros, eu mesmo me condene'. Sendo um bom atleta, nos exorta a
competir pela coroa da incorrupção e a que valorizemos essa coroa que
adquirimos pela luta, sem que a percamos. Quanto mais lutamos por algo,
mais nos parece valioso; e quanto mais valioso, mais o amamos. Pois não
amamos da mesma maneira o que nos chega de modo automático,
diferentemente daquilo que construímos com grande esforço. E como o
mais valioso que pode nos suceder é amar a Deus, por isso o Senhor
ensinou e o Apóstolo transmitiu que devemos obtê-lo lutando por isso.
De outra forma, nosso bem seria irracional, pois não o teríamos ganho
com exercício. A visão não seria para nós um bem tão desejável se
conhecêssemos o mal da cegueira; a saúde nos é mais valiosa quando
experimentamos a doença; assim também a luz, comparando-a com as trevas
e a vida com a morte. De igual modo, o Reino dos Céus é mais valioso
para aqueles que conhecem [o reino] da terra; e quanto mais valioso,
tanto mais o amamos; e quanto mais o amamos, tanto mais glória teremos
diante de Deus" (Contra as Heresias 4,37,7).[29]
Ireneu é outro Padre que rejeita o que se conheceria mais de um milênio depois como a doutrina de "uma vez salvo, sempre salvo":
"Por isso, dizia aquele
presbítero: não devemos nos sentir orgulhosos nem reprovar os antigos;
ao contrário, devemos temer; não ocorra que, depois de conhecermos a
Cristo, façamos aquilo que não agrada a Deus e, consequentemente, já
não nos sejam perdoados os nossos pecados, nos excluindo de seu Reino.
Paulo disse a este propósito: 'Se não perdoou os ramos naturais,
tampouco te perdoará, pois sois oliveira silvestre enxertada nos ramos
da oliveira [boa] e recebes [vida] da sua seiva'" (Contra as Heresias
4,27,2).[30]
CLEMENTE DE ALEXANDRIA
Nasceu em torno do ano 150, provavelmente em Atenas, de pais pagãos.
Após tornar-se cristão, viajou pelo sul da Itália e pela Síria e
Palestina em busca de mestres cristãos, até que chegou em Alexandria.
Os ensinamentos de Panteno (chefe da escola catequética de Alexandria,
no Egito) fizeram com que se estabelecesse ali até o ano 202, quando a
perseguição de Sétimo Severo o obrigou a deixar o Egito e se refugiar
na Capadócia, onde faleceu pouco antes do ano 215.
Seu conhecimento dos escritos
pagãos e da literatura cristã é notável. Segundo Quasten, encontram-se
em suas obras cerca de 360 citações dos clássicos, 1500 do Antigo
Testamento e 2000 do Novo; portanto, é considerado cronologicamente
como o primeiro sábio cristão conhecedor não apenas da Sagrada
Escritura como ainda das obras cristãs anteriores a ele e, inclusive,
de obras de literatura pagã. Clemente considerava o Cristianismo como a
realização mais bela e o coroamento de todos os elementos de verdade
dispersos na filosofia.
Sua rejeição à doutrina da "Sola Fides" é tão clara que torna desnecessário comentar qualquer coisa:
"Disse o Senhor: 'Há ainda
outras ovelhas que não são deste redil' - são consideradas dignas de
outro redil e morada, em proporção à sua fé. 'Porém, as minhas ovelhas
ouvem a minha voz' - compreendendo intuitivamente os mandamentos. E
estes devem ser levados em magnâmica e digna aceitação assim como
também a recompensa fruto do trabalho. Portanto, quando ouvimos: 'Tua
fé te salvou', não pensamos absolutamente que Ele disse que os que
creram serão salvos, a não ser que também trabalhem para isso. Contudo,
foi apenas para os judeus que ele dirigiu estas palavras, para aqueles
que guardavam a lei e viviam de maneira blasfema, para aqueles que
queriam apenas ter fé no Senhor. Logo, ninguém pode ser crente e ao
mesmo tempo licencioso; ao contrário, ainda que renuncie a carne, o
crente deve vencer as paixões, para assim ser capaz de alcançar sua
própria morada. Agora sabemos que é mais do que crer: ao ser
imediatamente coroado com a mais alta honra, ser salvo é algo maior que
o salvado. Consequentemente, o crente, mediante uma grande disciplina,
afastando-se das paixões, passa à morada melhor que a anterior, sabendo
que o maior tormento é levar com ele o arrependimento pelos pecados
cometidos após o batismo" (Stromata 6,14).[31]
SANTO HIPÓLITO DE ROMA
O lugar e a data do seu nascimento são desconhecidos, embora saiba-se
que foi discípulo de Santo Ireneu de Lião. Seu grande conhecimento da
filosofia e dos mistérios gregos, e sua própria psicologia, indicam que
procedia do Oriente. Até o ano 212 era presbítero em Roma, onde
Orígenes - durante sua viagem à capital do Império - o ouviu pronunciar
um sermão.
Por ocasião do problema da
readmissão na Igreja dos que haviam apostatado durante alguma
perseguição, estourou um grave conflito que o colocou em oposição ao
Papa Calisto, já que Hipólito mostrava-se rigorista neste assunto,
ainda que não negasse que a Igreja tinha o poder de perdoar os pecados.
Tão forte foi a oposição, que acabou por se separar da Igreja e, eleito
bispo de Roma por um reduzido círculo de amigos, tornou-se o primeiro
antipapa da História. O cisma se prolongou até a morte de Calisto,
durante o pontificado de seus sucessores Urbano e Ponciano. Encerrou-se
no ano 235, pela perseguição de Maximino, quando Hipólito e o papa
legítimo (Ponciano) foram desterrados para as minas da Sardenha, onde
se reconciliaram. Ali os dois renunciaram ao pontificado, para
facilitar a pacificação da comunidade romana que, deste modo, pôde
eleger um novo Papa e dar por encerrado o cisma. Tanto Ponciano quanto
Hipólito morreram [ali] no ano 235.
Santo Hipólito, da mesma maneira
que os demais Padres, reconhece que o homem, por meio da fé, se prepara
para a vida eterna através das suas boas obras, pelas quais alcançará o
reino dos céus:
"Da mesma forma, os gentios, pela fé em Cristo, preparam para eles
a vida eterna através das boas obras" (Comentário sobre os
Provérbios).[32]
"Ele, ao administrar o justo juízo do Pai a todos, dará a cada um
o que é justo conforme as suas obras [...] A justificação será vista ao
dar a cada um o que é justo: aqueles que fizeram o bem, terão um justo
gozo eterno; e os amantes da iniquidade obterão um castigo eterno [...]
Porém, os justos recordarão apenas as boas obras pelas quais alcançaram
o reino dos céus, no qual não existe miragem, nem dor, nem corrupção"
(Contra Platão, sobre o Universo).[33]
ORÍGENES DE ALEXANDRIA
Orígenes foi escritor eclesiástico,
teólogo e comentarista bíblico. Viveu em Alexandria até o ano 231,
passando os últimos 20 anos de sua vida em Cesaréia Marítima
(Palestina) e viajando pelo Império Romano. Foi o maior mestre de
doutrina cristã de seu tempo e exerceu extraordinária influência como
intérprete da Bíblia.
Orígenes é cuidadoso ao alertar
que os cristãos devem ser instruídos para compreender que não basta
apenas crer, mas também praticar [boas] obras:
"Consideremos agora o justo
juízo de Deus, quanto ao que se recompensa a cada um segundo as suas
obras. Em primeiro lugar devemos rejeitar os hereges que dizem que as
almas são boas ou más por natureza e saber, ao invés, que Deus
recompensará cada um segundo as suas obras e não segundo sua natureza.
Em segundo lugar, os crentes serão instruídos a não pensar que é
suficiente apenas crer; eles devem perceber que o justo juízo de Deus
recompensará a cada um segundo as suas obras" (Comentário sobre Romanos
2,5).[34]
"Que ninguém pense que alguém
possui fé suficiente para estar justificado e ter glória diante de Deus
e, ao mesmo tempo, possuir maldade dentro de si. Porque a fé não pode
coexistir com a incredulidade, nem a justiça com a maldade, assim como
a luz e as trevas não podem viver juntas" (Comentário sobre Romanos
4,2).[35]
Também reconhece que os
crentes justificados podem cair do estado de graça quando, por sua
própria vontade, cometem pecados graves e não cumprem os mandamentos
(se o homem pode fazer ou deixar de fazer algo que, após justificado, o
faça perder a salvação, então novamente a fé apenas não é suficiente
para a salvação):
"Inclusive na Igreja, se
alguém é 'circunciso' pela graça do batismo e logo depois se converte
em transgressor da lei de Cristo, a circuncisão do batismo é para ele
como incircuncisão, porque 'a fé sem obras é morta'" (Comentário sobre
Romanos 2,25).[36]
"O Salvador, também dizendo: 'Eu
vos digo: não resistam ao mal'; e: 'O que se levanta contra seu irmão
será culpável de juízo'; e: 'Quem olha uma mulher para desejá-la já
cometeu adultério com ela em seu coração'; e assim como em outros
mandamentos, não transmite outra realidade senão que é faculdade nossa
observar o que nos foi mandado. Portanto, somos com razão responsáveis
pela condenação se transgredimos os mandamentos que somos capazes de
cumprir. E, assim, também Ele mesmo declara: 'Quem ouve as minhas
palavras e as pratica é como um homem sábio que edificou sua casa sobre
uma rocha'. E ainda declara: 'Quem ouve estas coisas e não as pratica é
como um homem néscio que edificou sua casa sobre a areia'. Inclusive as
palavras que dirigiu àqueles que estão à sua direita: 'Vinde a mim,
benditos de meu Pai, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e
me destes de beber', mostram claramente que dependia deles mesmos serem
merecedores de louvor, por fazerem o que foi ordenado, e recebendo o
que foi prometido; ou merecedores de censura quem ouviu ou recebeu o
contrário, sendo-lhes dito: 'Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo
eterno'. Observemos também o que o Apóstolo Paulo nos ensinou sobre
termos o poder sobre a nossa própria vontade, possuidores de quaisquer
das causas de nossa salvação ou ruína: 'Desprezas as riquezas da Sua
bondade, paciência e generosidade, ignorando que a Sua bondade te guia
ao arrependimento? Porém, por tua dureza e por teu coração não
arrependido, cumulas ira para ti mesmo no Dia da Ira e da revelação do
justo juízo de Deus, o qual pagará a cada um segundo as suas obras:
vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, buscam a glória, a
honra e a imortalidade; porém, ira e cólera aos que são contenciosos e
não obedecem a verdade, mas obedecem a injustiça. Tribulação e angústia
sobre todo ser humano que pratica o mal: sobre o judeu em primeiro
lugar e também sobre o grego; ao contrário, glória, honra e paz a todo
aquele que pratica o bem: ao judeu em primeiro lugar e também ao
grego'. Encontrará ainda inumeráveis passagens da Sagrada Escritura que
claramente demonstram que temos livre-arbítrio. Do inverso, seria uma
contradição os mandamentos dados a nós, por observarmos aquilo que não
nos poderia salvar ou por transgredir aquilo que nos condenaria, se o
poder de observá-los não fosse dado a nós" (De Principiis 3,1).[37]
Em sua obra mais importante, conhecida como "De Principiis" (ou Peri Arcon - Περ? αρχ?ν), escreve:
"O ensinamento apostólico é
que a alma, possuindo substância e vida própria, será, após a sua
partida do mundo, recompensada conforme os seus merecimentos, sendo
destinada a obter a herança da vida eterna e bem-aventurada se as suas
ações a procuraram; ou será entregue ao fogo e penas eternas se a culpa
de seus crimes a levaram a isso" (De Principiis, Prefácio,5).[38]
SÃO CIPRIANO DE CARTAGO
São Cipriano nasceu em torno do ano 200, provavelmente em Cartago, de
família rica e culta. Dedicou-se em sua juventude à retórica. O
desgosto que sentia diante da imoralidade dos ambientes pagãos
contrastado com a pureza de costumes dos cristãos, o induziu a abraçar
o Cristianismo por volta do ano 246. Pouco depois, em 248, foi eleito
bispo de Cartago. Ao iniciar a perseguição de Décio, em 250, julgou
melhor retirar-se para um lugar à parte, para poder continuar a se
ocupar com seu rebanho.
São Cipriano também estabelece como condição para se salvar o cumprimento dos mandamentos e as boas obras:
"Profetizar, expulsar demônios
e fazer grandes atos na terra são, sem dúvida, coisas sublimes e
admiráveis; porém ninguém alcança o reino dos céus ainda que faça todas
essas coisas, a não ser que caminhe na observância do direito e da
justiça. O Senhor denuncia e diz: 'Muitos me dirão naquele dia:
'Senhor, Senhor: não profetizamos em teu nome? E em teu nome não
expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitos milagres?' E Eu
lhes direi: 'Nunca vos conheci! Apartai-vos de mim, praticantes da
maldade''. Existe a necessidade de justiça que alguém bem pode merecer
de Deus, o Juiz. Devemos obedecer seus preceitos e advertências, para
que nossos méritos possam receber sua recompensa" (Da Unidade da Igreja
16).[39]
"Cremos, com efeito, que os
méritos dos mártires e as obras dos justos são de grande valor para o
Juiz. Porém, assim será quando o Dia do Juízo chegar; quando, depois do
fim desta vida e mundo, seu povo estiver de pé diante do tribunal de
Cristo" (Dos Lapsos, Tratado 3,17).[40]
Em "Das Boas Obras e Esmolas (De opere et eleemosynis), escreve:
"O Espírito Santo fala, nas
Sagradas Escrituras, e diz: 'Pela esmola e pela fé se purificam os
pecados'. Seguramente, não os pecados que haviam sido previamente
contraídos, mas aqueles que são limpos pelo sangue e santificação de
Cristo. Ademais, Ele diz novamente: 'Assim como a lavagem pela água
salvífica extingue o fogo do inferno, assim também é subjugado o fogo
pela esmola e pelas boas obras'. Porque no batismo se concede a
remissão dos pecados de uma vez para sempre: o exercício constante e
incessante das boas obras, à semelhança do batismo, outorga novamente a
misericórdia de Deus [...] Aqueles que caíram após a graça do batismo
podem ser limpos novamente" (Das Boas Obras e Esmolas, Tratado 8,2).[41]
Aqui São Cipriano explicitamente fala de como, por intermédio das boas
obras, se obtém também o perdão dos pecados cometidos após o batismo
(um conceito totalmente alheio à doutrina protestante). É notório ainda
que cite como Escritura não apenas o livro dos Provérbios (16,6), como
também o livro do Eclesiástico (3,30) - e no capítulo 5 cita Tobias, ou
seja, dois livros que os protestantes retiraram de suas Bíblias
acusando-os de "apócrifos" (como se vê, não eram apócrifos para São
Cipriano).
Sobre esse mesmo texto, comenta Quasten:
"Cipriano ensina aqui a
eficácia das boas obras para a salvação. Visto que ninguém está isento
'de alguma ferida de consciência', todo mundo é obrigado a praticar a
caridade. Não pode haver desculpa para ninguém. Os que temem que suas
riquezas diminuam pelo exercício da generosidade e se vêem expostos, no
futuro, à pobreza e à necessidade, deveriam saber que Deus cuida
daqueles que socorrem os demais. 'Que ninguém, caríssimos irmãos,
impeça ou desmotive os cristãos do exercício das retas e boas obras,
sob a consideração de que alguém pode excusar-se delas em benefício de
seus filhos, visto que nos desembolsos espirituais devemos pensar
apenas em Cristo, que declarou que é Ele quem as recebe, preferindo não
aos nossos semelhantes, mas ao Senhor, e não aos nossos filhos'. 'Se
realmente queres bem aos teus filhos, se queres demonstrar-lhes
plenamente a suavidade do teu amor paternal, deverias ser cada vez mais
caridoso, a fim de que por tuas boas obras possas recomendar teus
filhos a Deus'. Este tratado de Cipriano foi uma das leituras favoritas
da Antiguidade Cristã. As atas do Concílio Geral de Éfeso (431) citam
várias passagens, embora desconheçamos qualquer tradução grega desta
obra".[42]
"Os remédios para tornar Deus
propício são dados nas palavras do próprio Deus; as instruções divinas
têm ensinado o que os pecadores devem fazer: pelas obras da justiça de
Deus, Este fica satisfeito" (Das Boas Obras e Esmolas, Tratado
8,2).[43]
LACTÂNCIO
Nasceu no norte da África, por
volta do ano 250, de família pagã. Abraçou o Cristianismo provavelmente
na Nicomédia. Durante a última grande perseguição, em torno do ano 303,
viu-se obrigado a abandonar sua cátedra e a exilar-se na Bitínia. Após
o Edito de Milão, Constantino o chamou a Tréveris para confiar-lhe a
educação de Crispo, seu filho maior. Estima-se que morreu por volta do
ano 317.
Em "Instituições Divinas", fazendo
referência ao livre-arbítrio, adverte que podemos ganhar a vida eterna
por nossa virtude ou perdê-la por nossos vícios (novamente, nada de
"Sola Fides"):
"Por esta razão, Ele nos deu
a vida, a qual podemos: ou perder aquela verdade e vida eterna por
nossos vícios; ou ganhá-la por nossa virtude" (Instituições Divinas
7,5).
SANTO HILÁRIO DE POITIERS
Bispo, escritor, santo, Padre e Doutor da Igreja, nascido no início do
século IV, por volta de 315, em Poitiers (França) e falecido nesta
mesma cidade no ano 367.
Santo Hilário fala de como o perseverar na fé é também um dom de Deus; porém, isso não exclui o livre-arbítrio:
"Perseverar na fé é um dom de Deus; porém, o primeiro movimento da
fé começa em nós. Nossa vontade deve ser tal que propriamente e por si
mesma o faça. Deus dará o acréscimo após termos dado início. Nossa
debilidade é tal que não podemos levá-la a termo por nós mesmos; porém,
Ele recompensa o início considerando que foi feito livremente" (Do
Salmo 118[119],Nun,20).[45]
"A debilidade humana é
impotente se espera conseguir algo por si mesma. O dever de tal
natureza é apenas este: dar a partida pela vontade, com o fim de aderir
ao serviço do bem. A misericórdia divina é tal que ajudará aos que
estão dispostos, fortalecendo aqueles que deram a partida e assistindo
aqueles que estão caminhando. A partida, no entanto, é parte nossa, tal
que Ele possa trazer-nos à perfeição" (Do Salmo 118[119],Ain,10).[46]
Rejeita antecipadamente a doutrina calvinista da predestinação, que
atribui a eleição a um juízo divino inescrutável. Para Santo Hilário,
esta distinção se baseia no mérito (novamente, nada de "Sola Fides").
"Porque, conforme o Evangelho, muitos são os chamados e poucos os
escolhidos [...] A eleição, portanto, não é questão de juízo acidental.
É uma distinção feita por intermédio de uma seleção baseada no mérito.
Feliz, então, aquele que elege a Deus: bendito em razão dele ser digno
da eleição" (Do Salmo 64[65],5).[47]
SANTO ATANÁSIO
Nascido no final do século III ou
início do IV. Por volta do ano 320, quando foi ordenado diácono,
assistiu ao Concílio de Nicéia. Em 328 foi ordenado bispo antes de
atingir os 30 anos. É reconhecido como doutor da Igreja e campeão da
ortodoxia por sua defesa à fé nicena.
Afirma que no Juízo saberemos se perseveramos na fé e cumprimos os mandamentos:
"Isto não é produto da
virtude, nem nenhuma mostra de bondade. Nenhum de nós julga pelo que
não sabe e ninguém é chamado santo por seu aprendizado e conhecimento;
porém, cada um será chamado a Juízo nestes pontos: se manteve a fé e
realmente observou os mandamentos" (Vida de Santo Antão 33).[48]
"Ele virá, não a sofrer, mas a
nos tornar frutos de sua própria cruz - a ressurreição e a incorrupção;
e já não para ser julgado, mas para julgar a todos, pelo o que cada um
fez durante a vida mortal - o bem ou o mal [...] Assim, o próprio
Senhor diz: 'Verão o Filho do Homem sentado à direita do Poder e vindo
nas nuvens do céu, na glória do Pai' [...] Conforme o bem-aventurado
Paulo: 'Todos teremos que estar diante do tribunal de Cristo, para que
cada um receba pelo que fez em sua vida mortal, seja o bem, seja o
mal'" (Da Encarnação do Verbo 56).[49]
Na sua obra "Contra os
Arianos", no capítulo 25 do 3º discurso, declara que é possível cair do
estado de graça e perder a salvação ao se cometer pecados graves e não
fazer penitência:
"Como eu disse, visto que a
Palavra tem por natureza o Pai, Ele deseja que ela nos seja dada
irrevogavelmente pelo Espírito, conforme diz o Apóstolo: 'Quem nos
separará do amor de Cristo?', pois 'os dons de Deus' e 'a graça de Seu
chamado são irrevogáveis'. Este é o Espírito daquele que está em Deus e
não o [espírito] que vemos em nós mesmos; e como somos filhos e
'deuses' porque a Palavra é em nós, assim deveríamos estar no Filho e
no Pai, e sermos considerados um com o Filho e o Pai, porque o Espírito
está em nós, o qual está na Palavra e no Pai. Quando, então, um homem
cai do Espírito por qualquer maldade, se se arrepende de ter caído, a
graça cai irrevogavelmente sobre este que está disposto; do contrário,
se o que caiu não está mais em Deus - porque o Espírito Santo e
Paráclito que está em Deus o abandonou - o pecador está naquele
[espírito malígno] que o submeteu, como ocorreu no caso de Saul: o
Espírito de Deus se afastou dele e um espírito malígno o afligia"
(Contra os Arianos 3,25).[50]
"Portanto, caríssimo, a meditação
da lei é necessária e o contínuo conversar com a virtude, 'para que o
santo se encontre perfeito e preparado para toda boa obra'. Por estas
coisas, és a promessa da vida eterna, como Paulo escreveu a Timóteo,
chamando-o ao constante exercício e meditação, e dizendo: 'Exercita-te
para a piedade, porque o exercício corporal é proveitoso para uns
poucos, mas a piedade a todos aproveita, porque têm a promessa desta
vida presente e da vindoura'" (Carta Festal 11,7).[51]
SÃO CIRILO DE JERUSALÉM
Nasceu em Jerusalém ou em suas
proximidades, por volta do ano 313 ou 315; em 348 já era bispo. Morreu
aproximadamente no ano 386.
Novamente, concebe a salvação a
partir de um perspectiva oposta a dos Reformadores. Para se salvar, não
deve-se apenas crer, mas perseverar unido a Cristo como o cacho à
videira; do contrário, a possibilidade de Jesus nos maldizer por não
produzir frutos é latente. É por isso que o cristão deve produzir
frutos para não ser cortado fora:
"Sois feitos partícipes de
uma videira santa: se permaneces na videira, crescerás como um cacho
frutífero; porém, se não permaneces, serás consumido pelo fogo. Assim,
pois, produzamos fruto dignamente. Que não nos suceda o mesmo que
aquela videira infrutífera; não ocorra que, ao vir Jesus, a maldiga por
sua esterilidade. Que todos possam, ao contrário, pronunciar estas
palavras: 'Eu, porém, como oliveira verde na casa de Deus, confio no
amor de Deus para todo o sempre'. Não se trata de uma oliveira
sensível, mas inteligível, portadora da luz. O que é próprio d'Ele é
plantar e regar; a ti, porém, cabe frutificar. Por isso, não desprezes
a graça de Deus: guardai-a piedosamente quando a receberdes" (Catequese
1,4).[52]
SÃO BASÍLIO MAGNO
Nasceu por volta do ano 329 em Cesaréia da Capadócia. Chegou a ser um
dos Padres da Igreja grega que mais brilharam no século IV. Morreu em
torno do ano 379.
Para São Basílio não basta, para se salvar, nem sequer apenas renunciar ao pecado; é necessário ainda os frutos (boas obras):
"A mera renúncia ao pecado não
é suficiente para a salvação dos penitentes; também se requer deles os
frutos dignos da penitência" (Morais 1,3).[53]
"Quem obedece ao Evangelho deve
ser purificado de todas as desonras da carne e do espírito para que
possa ser aceitável a Deus, através das boas obras de santidade"
(Morais 2,1).[54]
"É em conformidade com os teus
méritos o 'estar sempre com o Senhor', se esperar ser arrebatado 'nas
nuvens, ao encontro do Senhor no céu, para estar sempre com o Senhor'"
(Do Espírito Santo 18).[55]
Também reconhece que aqueles
que se salvaram foram fiéis. Fala ainda de como aqueles que recebem o
Espírito Santo podem ser apartados d'Ele se passarem a viver uma vida
pecaminosa:
"Eles, então, que foram
selados pelo Espírito até o dia da redenção e preservaram puros e
intactos os primeiros frutos que receberam do Espírito, ouvirão as
palavras: 'Muito bem, servos bons! Como fostes fiéis no mínimo, tomai o
governo de muitas coisas'. Da mesma forma, os que ofenderam o Espírito
Santo pela maldade de seus caminhos, ou não forjaram para si o que Ele
lhes deu, serão privados do que receberam e sua graça será dada a
outros; ou, conforme um dos evangelistas, serão totalmente cortados em
pedaços, cujo significado é ser separado do Espírito" (Do Espírito
Santo 16,40).[56]
"Deus é o Criador do universo e
o Justo Juiz que recomeça todas as ações da vida de acordo com os seus
méritos" (Homilia 1,4).[57]
"Espera o descanso eterno os que
lutaram através da vida, atentos às disposições da lei; não como
pagamente devido às suas obras, mas outorgado aos que esperaram n'Ele,
como um dom de Deus na magnificência" (Do Salmo 114,5).[58]
SÃO GREGÓRIO DE NISSA
Nascido entre 331 e 335 d.C. Foi consagrado bispo em 371 e faleceu em 394.
Para ilustrar a necessidade não apenas da fé como ainda das obras para
a salvação, Gregório usava a figura da armadura do Hoplita, soldado de
elite do exército grego que possuía uma couraça especial que constava
de duas placas que protegiam os dois lados do torso. Gregório compara o
Hoplita bem armado de ambos os lados com o cristão que possui fé e
obras:
"Paulo, unindo a virtude à fé
e tecendo-as juntas, constrói a partir delas a couraça do Hoplita,
armando o soldado própria e seguramente de ambos os lados. Um soldado
não pode ser satisfatoriamente considerado armado quando uma parte da
armadura não está unida à outra. A fé sem as obras de justiça não é
suficiente para a salvação, nem tampouco é justo viver seguro da
salvação em si mesmo, separado da fé" (Homilia sobre Eclesiastes 8).[59]
SANTO AMBRÓSIO DE MILÃO
Padre e doutor da Igreja, nascido no ano 340 e consagrado bispo em 374.
Foi também um ardente defensor da ortodoxia contra o Arianismo. Morreu
no ano 397.
Para Santo Ambrósio, as obras
serão postas ao juízo de uma balança, decidindo assim se nos salvaremos
ou nos condenaremos. Portanto, a vida eterna não se baseia apenas no
conhecimento das coisas divinas, mas também no fruto das boas obras:
"Os méritos de cada um de nós
serão colocados em uma balança, na qual um pouco de peso, seja de boas
obras ou de má conduta ditará seu destino: se o mal prevalece, ai de
mim! Se o bem [prevalece], recebe-se o indulto. Nenhum homem está livre
do pecado, porém, onde o bem prevalece, o mal se afasta, se obscurece e
some. Portanto, no Dia do Juízo nossas obras nos socorrerão ou nos
lançarão nas profundezas com o peso de uma pedra de moinho" (Carta 2,
ao bispo Constâncio).[60]
"Porém, as Sagradas Escrituras
dizem que a vida eterna se baseia no conhecimento das coisas divinas e
no fruto das boas obras. O Evangelho é testemunha destas duas
sentenças, pois o Senhor Jesus falou assim quanto ao conhecimento:
'Esta é a vida eterna: que Te conheçam como único Deus verdadeiro e a
Jesus Cristo, a quem enviaste'. Sobre as obras, deu esta resposta:
'Todo aquele que abandonar casa, irmãos, irmãs, pai, mãe, esposa,
filhos ou terras em razão do meu nome, receberá cento por um e herdará
a vida eterna'" (Dos Deveres do Clero 2,2,5).[61]
SÃO JOÃO CRISÓSTOMO
Considerado um dos quatro grandes
Padres da Igreja oriental, nasceu na Síria por volta do ano 347. Foi
Patriarca de Constantinopla e morreu em 404 d.C.
É taxativo em recordar que para se
ter a vida eterna não basta crer, porque se isto não leva à uma vida
reta, a fé nada vale para a salvação:
"Disse alguém: 'Então é
suficiente crer no Filho para se ganhar a vida eterna?' De maneira
nenhuma. Escuta esta declaração do próprio Cristo, dizendo: 'Nem todo
aquele que me diz: 'Senhor, Senhor' entrará no reino dos céus'; e a
blasfêmia contra o Espírito é suficiente para lançar um homem no
inferno. Porém, por que menciono esta parte da doutrina? Ainda que o
homem creia devidamente no Pai, no Filho e no Espírito Santo, se não
leva uma vida reta, sua fé não lhe valerá nada para sua salvação.
Portanto, quando Ele disse: 'Esta é a vida eterna: que Te conheçam como
único Deus verdadeiro', não devemos supor que o [conhecimento] de que
fala é suficiente para a nossa salvação [...] Ainda que aqui Ele diga:
'Aquele que crê no Filho tem vida eterna' [...] todavia nem sequer
disto afirmamos que somente a fé é suficiente para a salvação. E as
diretrizes [para a conduta] da vida dadas em muitos lugares do
Evangelho demonstram isso" (Homilia sobre o Evangelho de João
31,1).[62]
"Diz Ele: 'Não penses que porque
creste isto é suficiente para a tua salvação [...] a menos que exibas
uma conduta inatacável'" (Homilia sobre a Epístola aos Coríntios
23,2).[63]
SÃO JERÔNIMO
Reconhecido como um dos quatros
doutores originais da Igreja latina. Padre das ciências bíblicas e
tradutor da Bíblia para o latim. Presbítero, homem de vida ascética,
eminente literato. Nasceu no ano 347 e morreu no ano 420.
São Jerônimo, da mesma forma que os outros Padres, declara que os
batizados podem cair do estado de graça e perder sua salvação em razão
de suas escolhas pelo livre-arbítrio. Aqueles que por meio da graça
suportarem as provas, receberão a coroa da vida:
"Não é de acordo com a
justiça divina esquecer das boas obras e as ações que ministraste e
ministras aos santos por seu nome e para recordar apenas os pecados. O
Apóstolo Tiago também, considerando que os batizados podem ser tentados
e cair de sua própria livre escolha, diz: 'Bem-aventurado o homem que
suporta a tentação, porque quando for aprovado receberá a coroa da vida
que o Senhor prometeu àqueles que O amam'. E não podemos pensar que
somos tentados por Deus, como lemos no Gênesis sobre Abraão: 'Que
ninguém diga, quando for tentado, que é tentado por Deus, porque Deus
não pode ser tentado pelo mal nem tenta a ninguém. Cada um, porém, é
tentado por sua própria concupiscência, que o arrasta e seduz. E após
conceber a concupiscência, dá à luz ao pecado; e o pecado, uma vez
consumado, gera a morte'. Deus nos criou com livre-arbítrio e não somos
forçados pela necessidade nem à virtude nem ao vício. Do contrário, se
não estamos obrigados pela necessidade, não há coroa. Como nas boas
obras, é Deus quem os traz à perfeição, já que não é de quem quer, nem
do que corre, mas de Deus que piedosamente nos ajuda a ser capazes de
atingir a meta" (Contra Joviniano 2,3).[64]
SANTO AGOSTINHO
Bispo de Hipona e doutor da Igreja, é reconhecido como um dos quatro
doutores mais distintos da Igreja latina. Nasceu em 354 e chegou a ser
bispo de Hipona durante 34 anos. Combateu duramente todas as heresias
de sua época e morreu no ano 430.
Santo agostinho é muito citado por
protestantes (tanto luteranos quanto calvinistas) como um expoente da
doutrina da "Sola Fides" e por seus textos relacionados com a
predestinação. Particularmente não posso explicar o porquê disso, já
que existem também textos bem claros do mesmo Agostinho sobre o
purgatório e a oração pelos mortos, doutrinas estas opostas à "Sola
Fides".
A maioria dos textos citados por protestantes são textos onde Santo
Agostinho combate o Pelagianismo (uma heresia que pregava que o homem
se salvava pelas obras e não pela graça). Pelágio seria como o extremo
oposto de Lutero (Pelágio pregava "Sola Opus"; Lutero, "Sola Fides" - e
Santo Agostinho, a doutrina ortodoxa: a Católica).
Um exemplo temos no que se refere
ao livre-arbítrio, que Lutero declarou ser "pura mentira" (em "De Servo
Arbitrio"). Quando Agostinho é acusado pelos pelagianos de negar o
livre-arbítrio, defende-se vigorosamente:
"Afirmas que em outro de meus
livros eu disse: 'Nega-se o livre-arbítrio se se defende a graça e
nega-se a graça se se defende o livre-arbítrio'. Pura calúnia! Eu não
disse isso. O que eu disse foi que essa questão apresenta enormes
dificuldades que poderia parecer que se nega uma quando se admite a
outra. E como minhas palavras são poucas, irei repetí-las para que meus
leitores vejam como distorces os meus escritos e com que má-fé abusas
da ignorância dos retardados e privados de inteligência, para
fazer-lhes crer que me respondeste porque não sabes calar-te. Eu disse
no final do primeiro livro, dedicado ao virtuoso Piniano, cujo título é
'De gratia contra Pelagium': 'Nesta questão que trata do
livre-arbítrio, parece se negar a graça de Deus; e quando se defende a
graça de Deus, parece se destruir o livre-arbítrio'. Porém, tu, homem
honesto, verás que suprimes as palavras que eu disse e colocas outras
de tua invenção. Disse sim que esta questão era difícil de se resolver,
não que era impossível. E muito menos afirmei, como falsamente me
acusas, que 'se se defende a graça, nega-se o livre-arbítrio; se se
defende o livre-arbítrio, nega-se a graça de Deus'. Citai minhas
palavras textuais e evaporam-se as tuas calúnias" (Resposta a Juliano
4,47).[65]
"Não é certo, como dizes, 'que
chamamos pelagianos ou celestianos a todo aquele que reconhece no homem
o livre-arbítrio e afirma que Deus é o Criador das crianças', mas que
damos este nome aos que não atribuem à liberdade, à qual fomos
chamados, a graça divina; e aos que recusam reconhecer Cristo como
Salvador das crianças; aos que não admitem nos justos a necessidade de
dirigir a Deus petição alguma da oração do Senhor. A estes sim, os
chamamos de pelagianos e celestianos, porque participam de seus erros
criminosos" (Resposta a Juliano 3,2).[66]
"Dizes que 'louvo a continência
dos tempos cristãos não para suscitar nos homens o amor à virgindade,
mas para condenar o matrimônio instituído por Deus'. Mas para que
ninguém acredite, te atormenta a suspeita de uma má interpretação dos
meus sentimentos - me dizes - como querendo aprovar: 'Se com
sinceridade exortas aos homens à virgindade, deves confessar que a
virtude da castidade pode ser observada por aqueles que quiserem, de
sorte que qualquer um pode ser santo em corpo e espírito'. Respondo que
admito isso, mas não no teu sentido. Tu atribuis este poder apenas às
forças do livre-arbítrio; eu o atribuo à vontade auxiliada pela graça
de Deus. No entanto, pergunto: sobre o quê exerce o espírito seu poder
para não pecar senão sobre um mal que, se vence, nos faz cair em
pecado? E para não ter que dizer, com os maniqueus, que este mal provém
de uma natureza má, estranha a nós e com a qual se mistura, resta-nos
confessar que existe em nossa natureza uma ferida que é necessário
curar e cuja mancha nos torna culpáveis se não for lavada pelo
sacramento da regeneração (=batismo)" (Resposta a Juliano 5,65).[67]
Santo Agostinho também rejeita a posição calvinista e declara que é o
homem, por sua própria eleição, quem perde a graça e se torna mau
(Calvino afirmava que quem não for predestinado nunca receberá a graça
porque, se tiver recebido, não terá como resistir a ela e se salvará).
"Porém, se alguém já
regenerado e justificado, por vontade própria, recair em sua má vida,
certamente esse homem não poderá dizer: 'Eu não a recebi', porque ele
perdeu a graça que recebeu de Deus e por sua própria e livre escolha
tornou-se malvado" (Exortação e Graça 6,9).[68]
"Ele outorgou o perdão e dará a
coroa. Do perdão é doador e da coroa devedor; mas por que devedor? Ele
recebeu algo? [...] O Senhor faz a Si mesmo devedor não por receber
algo, mas por prometer algo. Ninguém lhe diz: 'Paga por aquilo que
recebeste', mas: 'Paga por aquilo que prometeste'" (Comentário ao Salmo
83,16).[69]
Também rejeita explicitamente a doutrina da "Sola Fides":
"Pois bem: se o mau fosse
salvo pelo fogo em razão apenas de sua fé e se esta fosse a forma como
a passagem do bem-aventurado Paulo deveria ser entendida - 'Porém, o
mesmo será salvo, mas como pelo fogo' - então a fé sem obras seria
suficiente para se salvar. No entanto, aquilo que o Apóstolo Tiago
disse seria falso. E também falso seria outra frase do mesmo Paulo. Diz
ele: 'Não se equivoquem: nem os fornicadores, nem os idólatras, nem os
adúlteros, nem os efeminados, nem os homossexuais, nem os ladrões, nem
os que cobiçam, nem os ébrios, nem os vilipendiadores, nem os
extorsionários herdarão o reino de Deus'" (Da Fé, Esperança e Caridade
18,3).[70]
Talvez a declaração mais clara de
Santo Agostinho sobre esta matéria encontremos em seu tratado sobre a
graça e o livre-arbítrio:
"[A fé sem as boas obras não é suficiente para a salvação]
Pessoas pouco inteligentes, no entanto, a respeito das palavras do
Apóstolo: 'Entendemos que o homem é justificado pela fé, sem as obras
da lei', pensam que isto quer dizer que a fé é suficiente para um
homem, inclusive quando ele leva uma vida má, sem boas obras.
Impossível [seria pensar] que tal pessoa devesse se julgar receptora da
eleição pelo Apóstolo, o qual, após declarar que em Cristo Jesus nem a
circuncisão nem a incircuncisão vale qualquer coisa, mas sim a fé que
opera pela caridade. É essa a fé infiel a Deus dos demônios impuros -
que inclusive 'crêem e tremem', como diz o Apóstolo Tiago. Portanto,
eles não possuem a fé pela qual o homem vive - a fé que age pela
caridade em tal sabedoria, que Deus a recompensa com a vida eterna
conforme as suas obras. Porém, à medida que temos nossas boas obras
[provindas] de Deus, de quem também provém nossa fé e nosso amor, o
mesmo grande mestre dos gentios atribuiu a vida eterna como um presente
de Sua graça.
Daqui nasce um outro problema de não pouca importância que, com a
graça de Deus, iremos resolver. Se a vida eterna se dá com as boas
obras, como diz a Escritura com toda a clareza: 'Porque o Filho do
Homem [...] pagará a cada um conforme suas obras', como pode ser graça
a vida eterna, se a graça não se dá por obras, mas gratuitamente,
conforme o Apóstolo: 'Porém, ao que trabalha, não se lhe conta o
salário como graça, mas como dívida'? E em outro lugar: 'Assim também,
ainda neste tempo, restou um remanescente eleito pela graça'; e em
continuidade: 'E se é por graça, já não é por obras; de outra forma, a
graça já não seria graça'. Portanto, como a vida eterna será graça se
responde às obras? Ou talvez o Apóstolo não chame 'graça' à vida
eterna? É mais do que isso: tão claramente o afirma que é totalmente
inegável. Não que esta questão exija um ingênio aguçado; basta um
ouvinte atento, porque quando diz: 'O salário do pecado é a morte', em
seguida acrescenta: 'Mas a dádiva de Deus é a vida eterna em Cristo
Jesus, Senhor nosso'.
Este problema, ao que me parece, apenas pode ser resolvido
entendendo que nossas boas obras, às quais se dá a vida eterna,
pertencem também à graça de Deus. Toda vez que nosso Senhor Jesus
Cristo diz: 'Sem mim nada podeis fazer', e o próprio Apóstolo, ao
dizer: 'Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem
de vós, pois é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie',
percebeu que os homens poderiam entender como não necessárias as obras,
bastando apenas a fé; assim como os homens também poderia se gloriar
por suas boas obras, como se bastassem a si mesmos para realizá-las.
Por isso acrescentou: 'Porque somos criaturas suas, criados em Cristo
Jesus para as boas obras, as quais preparou de antemão para que
andássemos nelas'. E o que significa isto, que recomendando o Apóstolo
a graça e assegurando que não provém das obras, para que ninguém se
glorie, logo dá a razão e diz: 'somos criaturas suas, criados em Cristo
Jesus para as boas obras'? Entretanto, repara e entende: não por obras
próprias e de tua procedência, mas como obras nas quais o Senhor te
plasmou, isto é, te formou e criou, porque é isto o que diz: 'somos
criaturas suas, criados em Cristo Jesus para as boas obras', não com a
criação que deu vida aos homens, mas com aquela outra que já supõe ao
homem e a que se refere o Salmo: 'Cria em mim, ó Deus, um coração
limpo', e da qual diz o Apóstolo: 'De modo que se alguém está em Cristo
é nova criatura; as coisas velhas passaram; eis que aqui todas são
feitas novas'. E tudo isso provém de Deus. Somos plasmados, isto é,
somos formados e criados para as boas obras; não somos nós que as
preparamos, mas Deus, para que nelas vivamos. Assim, portanto,
caríssimos, se nossa vida humana nada mais é que graça de Deus, sem
dúvida que a vida eterna, que se dá à vida boa, é dom de Deus; ambas,
por certo gratuitas. Porém, apenas aquela que se dá é graça; mas a que
se dá neste caso, já que é prêmio da vida boa, é graça que recompensa
outra graça, como retribuição por justiça, para que se cumpra, já que é
verdade que Deus dará a cada um segundo as suas obras" (Da Graça e do
Livre-Arbítrio 18-20).[71]
CONCLUSÃO
Não é difícil de entender, após tudo o que apresentamos anteriormente,
o porquê de Lutero não poder recorrer ao testemunho dos Padres da
Igreja, testemunho este que não apenas lhe era hostil, como também o
declarava herege. Por isso, precisou refugiar-se na "Sola Scriptura"
(doutrina que, como vimos anteriormente, também era rejeitada
unanimemente pela Igreja Primitiva e pelos Padres da Igreja). Porém,
nem sequer aí [na Bíblia] encontram apoio as doutrinas do monge
agostiniano. Não é de se estranhar que chamasse a Carta de Tiago de
"epístola de palha" e tentasse [em vão] excluí-la do Novo Testamento,
juntamente com a Carta aos Hebreus, a Carta de Judas e o Apocalipse.
Mas para justificar a doutrina da "Sola Fides" teria que mutilar metade
da Bíblia...
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Notas:
(1) Retirado de "Padres Apostólicos", 5ª edição. Daniel Ruiz Bueno, BAC 65, pág. 92-93
(2) Ibid. pág. 207
(3) Ibid. pág. 205
(4) Ibid. pág. 185
(5) Ibid. pág. 186
(6) Ibid. pág. 210
(7) Ibid. pág. 198
(8) Ibid. pág. 204
(9) Ibid. pág. 231
(10) Ibid. pág. 209
(11) Ibid. pág. 224
(12) Ibid. pág. 662-663
(13) Ibid. pág. 954
(14) Ibid. pág. 955
(15) Ibid. pág. 955
(16) Ibid. pág. 955-956
(17) Ibid. pág. 957
(18) Ibid. pág. 977
(19) Ibid. pág. 455
(20) Ibid. pág. 498
(21) Ibid. pág. 500-501
(22) Ibid. pág. 462
(23) Retirado de "Padres Apologistas Gregos", 2ª edição, Daniel Ruiz Bueno, BAC 116, pág. 191-192
(24) Ibid pág. 205-206
(25) Ibid pág. 199
(26) Ibid pág. 228-229
(27) Ibid pág. 781
(28) Retirado de http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/es/0d.htm
(29) Ibid.
(30) Retirado de http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/es/0a.htm
(31) Traduzido de "Stromata / Miscellanies", Chapter XIV; ANF, Vol. II
http://www.ccel.org/print/schaff/anf02/vi.iv.vi.xiv
(32) Traduzido de "Commentary on Proverbs"; ANF, Vol. V, 174
http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iii.iv.i.vi.i
(33) Traduzido de "Against Plato", 3; ANF, Vol. V, 222-223
http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iii.iv.ii.iii
(34) Traduzida de "Commentary on Romans" [2:5]; Bray, 57-58 The Church Fathers Were Catholic, Dave Armstrong, pág. 136
(35) Traduzida de "Commentary on Romans" [4:2]; Bray, 109-110 The Church Fathers Were Catholic, Dave Armstrong, pág. 137
(36) Traduzida de "Commentary on Romans" 2:25; Bray, 76 desde The Church Fathers Were Catholic, Dave Armstrong, pág. 136
(37) Traduzido de "De Principiis", Book III, 1,6 - http://www.newadvent.org/fathers/04123.htm - http://www.ccel.org/print/schaff/anf04/vi.v.iv.ii
(38) Traduzido de "De Principiis" , preface, 5; ANF, Vol. IV, 240) - http://www.ccel.org/print/schaff/anf04/vi.v.i - http://www.newadvent.org/fathers/04120.htm
(39) Traduzido de "On the Unity of the Church", 16; ANF, Vol. V, 423 - http://www.newadvent.org/fathers/050701.htm - http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iv.v.i
(40) Traduzido de "On the Lapsed [Treatise III]", 17; ANF, Vol. V - http://www.newadvent.org/fathers/050703.htm - http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iv.v.iii
(41) Retirado de "Patrología I", Johhanes Quasten, BAC 206, pág 324 - http://www.newadvent.org/fathers/050708.htm
(42) Retirado de "Patrología I", Johhanes Quasten, BAC 206, pág 324
(43) Traduzido de "On Works and Alms [Treatise VIII]", 5; ANF, Vol. V - http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iv.v.viii - http://www.newadvent.org/fathers/050708.htm
(44) Traduzido de "Divine Institutes", 7:5; ANF, Vol. VII, 200 - http://www.newadvent.org/fathers/07017.htm - http://www.ccel.org/print/schaff/anf07/iii.ii.vii.v
(45) Traduzido de "The Faith of the Early Fathers", Vol I, pág. 386
(46) Ibid. pág. 386-387
(47) Ibid. pág. 386
(48) Traduzido de "Life of Antony"; NPNF 2, Vol. IV, 205 - http://www.newadvent.org/fathers/2811.htm - http://www.ccel.org/ccel/schaff/npnf204.xvi.ii.xi.html
(49) Traduzido de "Incarnation of the Word", 56, 4; NPNF 2, Vol. IV, 66 - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf204/vii.ii.lvi
(50) Traduzido de "Athanasius, Discourse Against the Arians",3:25 in NPNF2, Vol IV:407 - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf204/xxi.ii.iv.iii
(51) Traduzido de "Athanasius, Festal Letters". Letter XI,7. NPNF2, Vol IV - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf204/xxv.iii.iii.ix
(52) Retirado de http://www.mercaba.org/tesoro/CIRILO_J/Cirilo_03.htm - A versão em inglês está em "Cyril of Jerusalem, Catechetical Lectures",I:4,NPNF 2,Vol. VII, 7 - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf207/ii.v
(53) Traduzida de "The Church Fathers Were Catholic", Dave Armstrong, pág. 142
(54) Ibid.
(55) Traduzido de "De Spiritu Sancto", Chapter XXVIII; NPNF 2, Vol. VIII) - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf208/vii.xxix - http://www.newadvent.org/fathers/3203.htm
(56) Traduzido de "De Spiritu Sancto", Chap. XVI, 40 NPNP 2 Vol VIII, p. 25. - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf208/vii.xvii - http://www.newadvent.org/fathers/3203.htm
(57) Traduzido de Homilia I; NPNF 2, Vol. VIII - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf208/viii.ii - http://www.newadvent.org/fathers/32011.htm
(58) Traduzido de "St. Basil the Great, On Ps. 114", no. 5 en The Faith of the Early Fathers, Vol II, pág. 22
(59) Traduzido de "The Faith of the Early Fathers", Vol II, William A. Jurgens, pág. 45-46
(60) Traduzida de "The Church Fathers Were Catholic", Dave Armstrong, pág. 144
(61) Traduzido de "On the Duties of the Clergy", Book II, 2, 5; NPNF 2, Vol. X - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf210/iv.i.iii.ii - http://www.newadvent.org/fathers/34012.htm - http://www.vatican.va/spirit/documents/spirit_20010605_ambrogio_en.html
(62) Traduzido de Homilia XXXI, 1, Por Juan 3:35-36; NPNF 1, Vol. XIV - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf114/iv.xxxiii - http://www.newadvent.org/fathers/240131.htm
(63) Traduzido de Homilia XXIII, on Corinthians NPNF1: Vol. XII, p. 133 - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf112/iv.xxiv
(64) Traduzido de "Against Jovinian", Book II, 3; NPNF 2, Vol. VI - http://www.newadvent.org/fathers/30092.htm - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf206/vi.vi.II
(65) Retirado de "Obras Completas de San Agustín" XXXV. BAC 457, pag 703
(66) Ibid. pag 574
(67) Ibid. pag 825
(68) Traduzido de "The Faith of the Early Fathers", Vol III, William A. Jurgens, pág. 157
(69) Ibid. pág. 19
(70) Traduzido de "Enchiridion of Faith, Hope, and Love", Chapter XVIII, paragraph 3; NPNF 1, Vol. III - http://www.ccel.org/print/augustine/enchiridion/chapter18
(71) Traduzido de "On Grace and Free Will" XVIII-XX NPNF1 Vol V - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf105/xix.iv.xviii - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf105/xix.iv.xix - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf105/xix.iv.xx - http://www.newadvent.org/fathers/1510.htm
Notas:
(1) Retirado de "Padres Apostólicos", 5ª edição. Daniel Ruiz Bueno, BAC 65, pág. 92-93
(2) Ibid. pág. 207
(3) Ibid. pág. 205
(4) Ibid. pág. 185
(5) Ibid. pág. 186
(6) Ibid. pág. 210
(7) Ibid. pág. 198
(8) Ibid. pág. 204
(9) Ibid. pág. 231
(10) Ibid. pág. 209
(11) Ibid. pág. 224
(12) Ibid. pág. 662-663
(13) Ibid. pág. 954
(14) Ibid. pág. 955
(15) Ibid. pág. 955
(16) Ibid. pág. 955-956
(17) Ibid. pág. 957
(18) Ibid. pág. 977
(19) Ibid. pág. 455
(20) Ibid. pág. 498
(21) Ibid. pág. 500-501
(22) Ibid. pág. 462
(23) Retirado de "Padres Apologistas Gregos", 2ª edição, Daniel Ruiz Bueno, BAC 116, pág. 191-192
(24) Ibid pág. 205-206
(25) Ibid pág. 199
(26) Ibid pág. 228-229
(27) Ibid pág. 781
(28) Retirado de http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/es/0d.htm
(29) Ibid.
(30) Retirado de http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/es/0a.htm
(31) Traduzido de "Stromata / Miscellanies", Chapter XIV; ANF, Vol. II
http://www.ccel.org/print/schaff/anf02/vi.iv.vi.xiv
(32) Traduzido de "Commentary on Proverbs"; ANF, Vol. V, 174
http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iii.iv.i.vi.i
(33) Traduzido de "Against Plato", 3; ANF, Vol. V, 222-223
http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iii.iv.ii.iii
(34) Traduzida de "Commentary on Romans" [2:5]; Bray, 57-58 The Church Fathers Were Catholic, Dave Armstrong, pág. 136
(35) Traduzida de "Commentary on Romans" [4:2]; Bray, 109-110 The Church Fathers Were Catholic, Dave Armstrong, pág. 137
(36) Traduzida de "Commentary on Romans" 2:25; Bray, 76 desde The Church Fathers Were Catholic, Dave Armstrong, pág. 136
(37) Traduzido de "De Principiis", Book III, 1,6 - http://www.newadvent.org/fathers/04123.htm - http://www.ccel.org/print/schaff/anf04/vi.v.iv.ii
(38) Traduzido de "De Principiis" , preface, 5; ANF, Vol. IV, 240) - http://www.ccel.org/print/schaff/anf04/vi.v.i - http://www.newadvent.org/fathers/04120.htm
(39) Traduzido de "On the Unity of the Church", 16; ANF, Vol. V, 423 - http://www.newadvent.org/fathers/050701.htm - http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iv.v.i
(40) Traduzido de "On the Lapsed [Treatise III]", 17; ANF, Vol. V - http://www.newadvent.org/fathers/050703.htm - http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iv.v.iii
(41) Retirado de "Patrología I", Johhanes Quasten, BAC 206, pág 324 - http://www.newadvent.org/fathers/050708.htm
(42) Retirado de "Patrología I", Johhanes Quasten, BAC 206, pág 324
(43) Traduzido de "On Works and Alms [Treatise VIII]", 5; ANF, Vol. V - http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iv.v.viii - http://www.newadvent.org/fathers/050708.htm
(44) Traduzido de "Divine Institutes", 7:5; ANF, Vol. VII, 200 - http://www.newadvent.org/fathers/07017.htm - http://www.ccel.org/print/schaff/anf07/iii.ii.vii.v
(45) Traduzido de "The Faith of the Early Fathers", Vol I, pág. 386
(46) Ibid. pág. 386-387
(47) Ibid. pág. 386
(48) Traduzido de "Life of Antony"; NPNF 2, Vol. IV, 205 - http://www.newadvent.org/fathers/2811.htm - http://www.ccel.org/ccel/schaff/npnf204.xvi.ii.xi.html
(49) Traduzido de "Incarnation of the Word", 56, 4; NPNF 2, Vol. IV, 66 - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf204/vii.ii.lvi
(50) Traduzido de "Athanasius, Discourse Against the Arians",3:25 in NPNF2, Vol IV:407 - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf204/xxi.ii.iv.iii
(51) Traduzido de "Athanasius, Festal Letters". Letter XI,7. NPNF2, Vol IV - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf204/xxv.iii.iii.ix
(52) Retirado de http://www.mercaba.org/tesoro/CIRILO_J/Cirilo_03.htm - A versão em inglês está em "Cyril of Jerusalem, Catechetical Lectures",I:4,NPNF 2,Vol. VII, 7 - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf207/ii.v
(53) Traduzida de "The Church Fathers Were Catholic", Dave Armstrong, pág. 142
(54) Ibid.
(55) Traduzido de "De Spiritu Sancto", Chapter XXVIII; NPNF 2, Vol. VIII) - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf208/vii.xxix - http://www.newadvent.org/fathers/3203.htm
(56) Traduzido de "De Spiritu Sancto", Chap. XVI, 40 NPNP 2 Vol VIII, p. 25. - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf208/vii.xvii - http://www.newadvent.org/fathers/3203.htm
(57) Traduzido de Homilia I; NPNF 2, Vol. VIII - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf208/viii.ii - http://www.newadvent.org/fathers/32011.htm
(58) Traduzido de "St. Basil the Great, On Ps. 114", no. 5 en The Faith of the Early Fathers, Vol II, pág. 22
(59) Traduzido de "The Faith of the Early Fathers", Vol II, William A. Jurgens, pág. 45-46
(60) Traduzida de "The Church Fathers Were Catholic", Dave Armstrong, pág. 144
(61) Traduzido de "On the Duties of the Clergy", Book II, 2, 5; NPNF 2, Vol. X - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf210/iv.i.iii.ii - http://www.newadvent.org/fathers/34012.htm - http://www.vatican.va/spirit/documents/spirit_20010605_ambrogio_en.html
(62) Traduzido de Homilia XXXI, 1, Por Juan 3:35-36; NPNF 1, Vol. XIV - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf114/iv.xxxiii - http://www.newadvent.org/fathers/240131.htm
(63) Traduzido de Homilia XXIII, on Corinthians NPNF1: Vol. XII, p. 133 - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf112/iv.xxiv
(64) Traduzido de "Against Jovinian", Book II, 3; NPNF 2, Vol. VI - http://www.newadvent.org/fathers/30092.htm - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf206/vi.vi.II
(65) Retirado de "Obras Completas de San Agustín" XXXV. BAC 457, pag 703
(66) Ibid. pag 574
(67) Ibid. pag 825
(68) Traduzido de "The Faith of the Early Fathers", Vol III, William A. Jurgens, pág. 157
(69) Ibid. pág. 19
(70) Traduzido de "Enchiridion of Faith, Hope, and Love", Chapter XVIII, paragraph 3; NPNF 1, Vol. III - http://www.ccel.org/print/augustine/enchiridion/chapter18
(71) Traduzido de "On Grace and Free Will" XVIII-XX NPNF1 Vol V - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf105/xix.iv.xviii - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf105/xix.iv.xix - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf105/xix.iv.xx - http://www.newadvent.org/fathers/1510.htm
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